Monday, April 23, 2012

Perder-se também é caminho


Chama de destino
O caminho que traças
A trilha guiada
por setas e placas

Chama de caminho
O destino traçado
E à sorte lançado
Por guias gurias

Chama de guia
A guria de trança
Que trança as pernas
E perde o caminho

Seria o destino
O nosso caminho
Lançado à sorte
Estaria sozinho

Sunday, April 08, 2012

Ao Mestre, com carinho


Atravessei meio mundo para chegar ao pé daquela montanha. Andei de jegue, de trêm, balsa, carona e a pé. Cruzei um oceano de avião.  Todo o meu dinheiro economizado num sonho. O sonho de conhecer o velho sábio da montanha. Aquele que há anos não desce a civilização. Mora lá em cima, mesmo em tempos de neve. Não há guias disponíveis para esta trilha. O começo é tranquilo e os primeiros passos são acompanhados de um riacho límpido e puro. Insetos e pássaros disputam a sobrevivência aos cantos. Logo em seguida, já com uma paisagem um pouco mais árida, não há mais árvores, apenas galhos no chão. A íngrime subida nos exige criatividade, transformando os galhos em cajado, que nos servem de apoio ao cansaço que só aumenta. Nesta trilha não levamos alimentos. A noite chega antes do costume e o ideal é dormir o quanto antes. O silêncio e as estrelas começam a questionar o juízo frágil. Um coro de vozes me leva a sonhar com o dia de amanhã e em todas as perguntas que farei ao velho sábio. Em tudo o que ele poderá me dizer. O sono não vem mas o dia sim. A vontande é de voltar, mas o sacrifício me obriga em seguir até o fim. A primeira coisa que eu me pergunto é: o que é que eu estou fazendo aqui? Para que isso tudo? As respostas se entrelaçam em um novelo de fatos que me distraem enquanto subo e ganho tempo. Vou tão fundo em  mim mesmo que nem sinto mais as dores superficiais. Enquanto isso subo e ganho tempo. Chego à casa do velho sábio que parecia me aguardar. Me ofereceu um chá. O cheiro de insenso era forte. Não havia muito conforto, mas havia uma fogueira que deixava o ambiente agradável e protegido. Mascamos uma raíz e comi uma pasta que preferi não perguntar o que era. Só pensava na minha fome. Depois de um tempo, quebrei o silêncio e perguntei: “- Mestre, subi a montanha para ouvir o que tem a dizer sobre o sentido da vida.” Ele respondeu: “- Bom meu jovem, se chegou até aqui, você já deve ter encontrado”. E eu concordei: “- De fato, Mestre. Durante a caminhada eu pensei muito sobre a minha vida, mas vim até aqui para ouvir a sua palavra.” Eis que ele me revela: “- Jovem, eu não sei nada. Todos que sobem aqui encontram o sentido da vida durante o caminho. Não esqueça seu cajado para a volta. Ele é o seu guia. Boa viagem!”