Não somos obrigados a ter que tocar sempre as mesmas notas, nem por isso somos obrigados a improvisar.
Monday, September 21, 2009
Sujeito oculto
Tem horas que ser amigo é ser otário e ser honesto é não ter como provar o contrário. Passei esta noite toda acordado, pensando num jeito de matar aquele filho da puta. Eu me revirava, me retorcia, mastigava, bebia, fumava, perambulava, sorria. Ironicamente eu sorria. Me sentia nos contos de Nelson Rodrigues. Ora o gato da vizinha. Ora o rato da cozinha. O frio deixava o café com sabor de azia. Minha obsessão por matar aquele filho da puta já me beirava à loucura. Calibrei o 38 com 6 balas e a cada uma dei um nome: Chacrinha; Andréa Sorvetão; Seu Madruga; Dona Mafalda, Emanuelle e a especial Pedro de Lara. Assim que girei o tambor me perdi nas identificações e deixei os nomes de lado. A arma era uma herança maldita de família que vivia pedindo vida do alto do guarda-roupa. Sorte a sua foi eu ter lhe dado ouvidos. Chamei um táxi e pedi para que me levasse ao Largo da Ordem. Do alto das ruínas já podia avistá-lo caminhando em minha direção. Ao me reconhecer, o filho da puta fingiu coincidência. Cobrei-lhe aquele cheque. A mesma resposta. Mas disse que desta vez não era pelo cheque, pois caso fosse já o teria matado anteriormente. Fingindo não entender, não fiz questão de explicar. A morte nunca se revelou com o receio de falhar. Desferi-lhe 6 tiros à queima roupa. Podia ver o jurado Pedro de Lara interpretando o Seu Madruga no programa do Chacrinha que distribuía abacaxis à Dona Mafalda, enquanto Andréa Sorvetão dançava insinuando Emanuelle para a excitação da minha mente satisfeita ao ver aquele sangue que vertia a vida daquele filho da puta. Tem horas que ser amigo é ser otário e ser honesto é não ter como provar o contrário.
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