Thursday, December 21, 2006

Biografia

Só me conhece
quem me entende.
Para quem não me conhece
não tem Biografia.

Tuesday, December 12, 2006

Uma tequila e um cigarro

Não sei se é culpa dos filmes que venho assistindo ou se faz parte da minha índole mesmo, só sei que estou com um instinto criminoso bem aflorado. Comecei a pensar em ser bandido, ter muito dinheiro, muitas mulheres e uma vida curta. Pra que mais? Pensei em ser político. Ia engordar até não mais poder, tomar muito whisky, morar na zona, andar sempre alinhado, ter carros de luxo e uma mansão. Viver às custas do povo sem precisar matar ninguém. Mas o fato de engordar muito não me agrada. Prefiro o estilo que mata a todos. Sem piedade. Por esporte. Leva tudo o que pode. Porte atlético e muita cocaína. Mas ter uma vida nas escuras também não me agrada. Queria mesmo ser um puxa-saco. Lobista. Traficante de informações e favores. Estar entre os nomes da alta sociedade, freqüentando grandes eventos em camarotes e com entradas VIP. Muitas mulheres, drogas, mortes, tramas, dinheiro e documentos falsos. Mas não gosto muito da alta sociedade e sua fedida hipocrisia. Acho que mataria a todas às minhas galinhas dos ovos de ouro e seria descoberto muito fácil. Eu poderia corromper policiais para facilitar meus negócios, caso negassem mataria suas famílias. Poderia viver chantageando alguém também, extorquindo muito dinheiro. Mas não. Eu poderia ser o policial corrompido. Mataria qualquer pessoa que imaginasse a fonte de minha fortuna. Poderia vender seguros sem nunca pagar ninguém. O importante é que tenha morte, prostitutas e muita cocaína. O legal é cheirar com a mesma caneta bic que furou o pescoço da vagabunda.
Mas meus planos eram tão ruins que não passaram na seleção de nenhuma produtora, editora, nem mesmo consegui vender nenhum fanzine xerocado.

Monday, November 27, 2006

Ingratidão

Tive uma grande idéia: precisava ter uma idéia. Resolvi me calar. Ficar em silêncio por toda a eternidade que fosse possível. Por palavras como essas (eternidade, infinito, acalanto, diabo, filho da puta) resolvi me calar. Alguém inventou, alguém gostou e por isso todos as usam. E todos gostam. Por pura falta de discernimento. “Eternamente, éter na mente”. Resolvi me calar. Usar o silêncio como onomatopéia (outra palavra no banco dos réus aqui) poética. Resolvi me calar.

“o mudo fala tudo
o que o mundo precisa
saber
o cego se cala
sem ponto de vista
é a opinião do mudo
preferir se abster
do vasto vão do mundo
que é a pura falta de
futuro"

Tuesday, November 21, 2006

A vida de Wildorff

Enquanto isso, na floresta encantada de Blützgorh, Wildorff dorme inquieto após um dia fraco de caça. As lebres começam a hibernar neste período que antecede o inverno e as aves de rapina se tornam injustas competidoras por comida. Wildorff não se preocupa com a fome, mas com o frio. Os pêlos das lebres são excelentes nesta época do ano. Ele acredita ter lenha o suficiente para o inverno todo, mas nunca se sabe. As raízes e folhas, em meio a água fervente e umas gotas de suor fazem um caldo maravilhoso, que se tivesse um peito de lebre então... hummm
Nosso Wildorff sabe que logo chegará a primavera e que as lebres sairão para brincar.

Saturday, November 18, 2006

Resistência MGM

Um pesquisador químico analisou as diversas espécies de pragas de milharal e elaborou um poderoso agente neutralizante. O inseticida era capaz de prevenir qualquer ataque, o que onerou em um lucro faraônico ao pesquisador. O que o tempo mostrou é que o poderoso agente era também o grande responsável pela mutação dos milhos, que vinha perdendo qualidade a cada safra.
Naquela época, o mercado atento aos problemas genéticos ainda não comprovados pelo milho mutante, passou a boicotar a compra e venda do produto agrícola. Os agricultores, sem ter o que fazer com as sacas, atearam fogo na produção e descobriram assim a pipoca.
Em uma espiga do noroeste do Paraná, era chegada a hora da colheita. Devidamente ensacados e embalados, alguns grãos foram vendidos à fábricas de pipoca convencional e outros à fabricas de pipoca de microondas.
Em uma grande quermesse no interior de São Paulo, a barraquinha de pipoca vendia "a rodo". Crianças, jovens, adultos, pais, namorados, todos comiam a pipoca.
Em uma panelada, o fogo esquentava o óleo rançoso no fundo. Esquentava tanto que alguns grãos não resistiam e estouravam. Até mesmo os que ainda acreditavam ser milho de latinha.
De repente, estavam todos estourando. Alguns para fazer parte do grupo, outros com medo de ficar sozinhos, já outros sempre sonham em ser pipoca. Eu não. Nunca admiti ser pipoca. Nasci milho. Algum químico maluco, alterou geneticamente milha família que teve que aceitar ser vendida a um preço ridículo para fins mundanos. Eu não. E se todo mundo pensasse como eu, com certeza teríamos mais respeito. Resisti. Me queimei. Mas não estourei. Sou aquele grão no fundo do seu pacotinho. Um dos poucos militantes da resistência dos milhos geneticamente modificados (RMGM).
Defendemos a idéia de que se não estourarmos, as pessoas deixarão de consumir pipoca. Só assim deixarão de plantar o milho pipoca ou de manter a alteração genética. Queremos apenas ser o que Deus nos mandou ser: milho!

Friday, November 17, 2006

Morrer vicia

Vivia se drogando,
com a desculpa de um amor
impossível
era a droga
do amor

Wednesday, November 15, 2006

Ser ou não um ser

Ação e reação
Culpa, perdão
Nem sim, nem não

Se dói a cabeça
Bebi demais
Se dói a barriga
Comi demais
Se dói a alma
Pequei demais

Ação e reação
Culpa, perdão
Nem sim, nem não

Andar sobre as águas
Se afogar
Tentar voar
Se arrastar
Conquistar, ganhar
Chorar

Ação e reação
Culpa, perdão
Nem sim, nem não

Ser ou não ser
Não é a questão
Pois não há ser
Sem culpa
Não há ser
Sem perdão

Tuesday, November 07, 2006

Cantada versão beta

Todo dia, quando desço do ônibus, cruzo a avenida principal, compro os pães de queijo para o café do escritório, páro na banquinha para ler as manchetes do dia, cumprimento meu amigo que trabalha no ponto de táxi, desvio as obras de saneamento na calçada, recebo uns panfletos, dou uma desculpa diferente para o mesmo garoto pedinte, quando chove dou uma leve discutida com as pessoas que andam de guarda-chuva sob as marquises, passo por aquela moto linda na vitrine e sempre nessa hora, você passa por mim. Todo dia! Já troquei o perfume, mas não adiantou. Você sempre age como quem nunca me notou. Como te conhecer se não sei me comunicar? Sou além de grosso, desastrado.... e gaguejo quando nervoso. Se ao menos eu soubesse escrever alguma coisa, tipo uma poesia, faria uma carta. Ou copiar uma canção, mas não sei seu gosto musical. Eu poderia te seguir e descobrir onde trabalha. Descobrir seu nome, telefone, e-mail, dados pessoais... te convidar para sair, jantar... não, não poderia! Eu chegaria atrasado e perderia o emprego. Não teria mais dinheiro para te convidar. Nem assunto para conversar. Não sei falar de outra coisa a não ser sobre meu trabalho. Atender pessoas que querem se suicidar dá bons assuntos. Como então farei para te conhecer? Para que preste a atenção em mim?
Certo dia, um daqueles de chuva, estava tão emburrado com meu sapato de sola furada, que nem reparei nas pessoas com guarda-chuva sob as marquises. Um carro passou então por uma poça e banhou-me todo. Molhou, ou melhor, encharcou meu terno que eu mais prezava. Como ir trabalhar desse jeito? Chegar atrasado ou molhado? Independente, seria mandado embora. Decidi segui-la. Quando fui procura-la, olhei e ela estava do meu lado, igualmente molhada. Tão brava quanto um cão pastor. Nos olhamos e começamos a rir. Ríamos sem parar. O que faríamos naquele momento? Ela disse que trabalhava perto dali, em uma loja de roupas usadas, e que poderia me ceder algumas roupas a um preço baixo. Acompanhei a moça. Ela me ofereceu algumas peças. Paguei e fui embora. Ela me chamou. Pensei estar muito atrasado já, mas parei para ouvi-la, como faria com um bem-te-vi, certamente. Ela me perguntou o nome, respondi, gaguejando. Perguntou se eu poderia fazer-lhe companhia no almoço. Disse sem pensar que fa-fa-faria o pooooooooooooooooooooooooooossível. Despedi-me e parti, com a responsabilidade de voltar pega-la as 12h15.
Como te conhecer se não sei me comunicar? Sou além de grosso, desastrado.... e gaguejo quando nervoso. Se ao menos eu soubesse escrever alguma coisa, tipo uma poesia, faria uma carta. Ou copiar uma canção, mas não sei seu gosto musical.

Monday, October 16, 2006

como eram porquinhos os três

Mal sabem contar a história dos três porquinhos as tias de escola, pois os livros infantis sempre a interrompem na parte mais emocionante. A verdade é que construída a casa de tijolos, cimento, laje e vigas, os três porquinhos ficaram seguros da impertinência do lobo, que provou-se estar somente interessado em derrubar as casas, haja vista nenhuma tentativa posterior de alimentar-se dos saborosos porquinhos. Ou seria tudo uma historinha patrocinada por uma indústria de argamassa? Enfim, o que não se sabe é que eles não viveram felizes para sempre, pelo menos não como contam os livros. A verdade é que eles eram, antes de tudo, três porquinhos. Com o passar do tempo, a falta de banho, de higiene com a alimentação, de cuidado com as roupas, da banalização da flatulência no lar, dos arrotos ao léu, da falta de cuidados com as unhas e cabelos, assim como a negação ao desodorante e à escova de dentes, acabaram tornando o convívio praticamente impossível. As brigas para que não fossem deixadas roupas intimas no banheiro e nem esquecida a passagem do rodo após o banho só não eram maiores que as brigas para que não se deixasse a manteiga para fora da geladeira. Cada um tinha que passar a vassoura em seus cômodos uma vez ao dia, recolher as folhas do quintal, lavar a louça, a roupa e nunca mastigar de boca aberta durante as refeições. Estes hábitos acabaram por torna-los depressivos, até que o primeiro porquinho saiu de casa. Não demorou muito e o segundo também. Construíram casas de alvenaria (obviamente) maravilhosas. Eram vizinhos da vovozinha, quem deu as dicas de arquitetura e decoração. Sua netinha chega hoje com docinhos para o jantar. Estão todos anciosos.

Wednesday, October 11, 2006

Refrão

O que você faria
se visse um carro ali parado
com um cara sentado
no banco do passageiro

O que ele está esperando?

Tuesday, October 10, 2006

_DISTORÇÃO_

Dormir comigo é uma tortura
nunca precisei tanto de você
que me dizia para que eu nunca interrompesse meu sono
com sonhos fora da realidade
dormir comigo é uma tortura
nunca precisei tanto de você

Wednesday, October 04, 2006

O amor não tem nome

Você quer que eu faça do meu jeito as tuas vontades.
Eu não sei o efeito que faz, mas sei como provocá-las.
Juntamos aquilo que pensamos separados
Sentimos separados aquilo que pensamos juntos
E dançamos a valsa por todo o salão.

Come a coruja dorme

Do sangue faz lava
Que escorre em suor
Pela sua pele clara
ou seria escura
insegura
me fez apaixonar

dorme a coruja come

troco um dia de sol por uma noite de estrelas
vejo no espelho a alma carente, peço para buscarem a minha vítima
hoje vai ter sacrifício

coruja come e dorme

vou mentir meu prazer
vou inventar minha paixão
vou gozar seu tesão
vou repetir a dose
doze veses
até dizer não
mais
não
mais
não
mais

Saturday, September 30, 2006

FluxoDrama

Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.
Os remédios não curam mais minha solidão. Preciso mudar de médico.

Friday, September 15, 2006

Né On

Kleitom tinha cinco anos e todo o dia acordava bem cedo para ir à escola. Lá ele tinha uma amiguinha de sala pela qual sentia uma amizade inexplicável nesta idade. Como a cidade em que moravam era muito pequena, eram comuns os encontros incidentais, o que fortalecia a amizade. Na casa de Kleitom, a família era constituída pelos pais e avô, este último que era a figura central da casa, sempre amigo, sempre consciente, sempre sábio, sempre ajudando em tudo, sempre conversando com todos sobre tudo, sempre querido, sempre presenteado. Contudo, o avô voltava para casa apenas algum dia ou outro da semana. E quando voltava chegava cheio de histórias. Era uma alegria muito bem recepcionada. Kleitom cresceu assim até seus cinco anos, quando seu avô veio a falecer. No enterro, Kleitom não parecia abatido ou triste, parecia não entender o que estava acontecendo. Nesta noite, enquanto dormia, Kleitom recebeu a visita de seu avô. Não se assustou, ao contrário, ficou curioso. Seu avô veio lhe contar uma lenda daquela pequena cidade que não poderia ser esquecida e que o menino jamais saberia.
A lenda dizia, na época em que o avô tinha a idade de Kleitom, que no imponente castelo do alto da colina, há alguns quilômetros da pequena concentração urbana em que residiam, visível de qualquer lugar da cidadezinha, habitava um Rei intocável. Era intocável porque não tocava ninguém e ninguém era tocado por ele. Sendo assim, ninguém subia para o castelo e o Rei também não saia de lá. Em vista disso, a lenda afirmava que o morador que subisse a colina e entrasse no castelo seria o “escolhido”, que voltaria para salvar o vilarejo. O escolhido teria todos os poderes em suas mãos, pois poderia tocar a tudo e a todos de qualquer forma. Pois bem, naquela idade o avô não se importava muito com os fatos e por brincadeira resolveu subir a colina rumo ao castelo. A população ficou atônita. As pessoas não acreditavam que havia aparecido finalmente o escolhido. E o menino subiu a colina e entrou no castelo. Todos comemoraram na cidade em uma grande festa! Ao entrar no imponente castelo, o menino se deparou com prateleiras de livros que iam do chão ao teto, não deixando à mostra nenhum detalhe das paredes em todo o castelo que ele descobriu ser inabitado. Ao ver isto, Kleitom pensou: nossa, vou levar uns vinte anos para ler tudo isso...
Vinte anos depois, o menino saiu após ler tudo o que havia no imponente castelo.
Ao avistá-lo descendo a colina, a cidade comemorou o esperado regresso do escolhido. Mas o avô, que na época deveria ter uns vinte e cinco anos, não lembrava da lenda e não entendeu direito o que estava acontecendo. De qualquer forma, comemorou sem chance de escapar, mesmo com muito cansaço, indo logo em seguida para casa dormir. No dia seguinte e por todos os outros que se seguiram, todos o convidavam para que almoçasse, pernoitasse, jantasse, tomasse um cafezinho, assistisse a um filme em suas casas, o consultavam para tudo e qualquer coisa.
Enquanto isso, havia uma menina de cinco anos que todo dia acordava bem cedo para ir à escola. Lá ela tinha um amiguinho de sala pelo qual sentia uma amizade inexplicável nesta idade. Como a cidade em que moravam era muito pequena, eram comuns os encontros incidentais, o que fortalecia a amizade. Na casa dela, a família era constituída pelos pais, irmãos e avô, este último que era a figura central da casa, sempre amigo, sempre consciente, sempre sábio, sempre ajudando em tudo, sempre conversando com todos sobre tudo, sempre querido, sempre presenteado. Ele havia, por exemplo, juntado a mãe da menina e algumas mães costureiras e montou com elas uma cooperativa, com a qual o negócio delas deu um forte impulso, transformando a cidade em um grande pólo têxtil, fortalecendo a economia local sustentável. Contudo, o avô voltava para casa apenas algum dia ou outro da semana. E quando voltava chegava cheio de histórias. Era uma alegria muito bem recepcionada. Mas teve um dia em que seu avô faleceu. No enterro, ela chegou desesperada e aos prantos. Não acreditava no que havia acontecido. Estava inconformada. E como mais um dos encontros incidentais, ela encontrou seu amiguinho de escola, Kleitom, até então sem reação. Ao tentar consolá-la, questiona se ela conhecia o seu avô, e ela por um segundo pára de chorar, olha para ele e diz: mas ele era o MEU avô! Quando viram, a cidade toda estava no enterro, inconformada, em um terrível clima de fim do mundo, fim das esperanças, da alegria, do amor, da vida!
Kleitom olha para o espírito de seu avô e pergunta: o senhor é a lenda? Sim, meu filho! Preciso te mostrar algo. Preciso que venha comigo!
Então pegou o menino pelo ombro e o conduziu colina acima, rumo ao castelo.
A cidade parecia não acreditar, pois o luto era algo ainda muito recente, mas aquela cena gerou uma felicidade contaminante. De novo havia um escolhido subindo a colina. Conduzido pelo invisível.

Saturday, September 09, 2006

AMOR ALÉM DA VIDA

Seu amor por mim é a controvérsia de que todos os homens são iguais.
Seria possível eu realmente ser diferente?
Seria possível você viver sem amar um homem?
Seria possível a exceção ser a nossa regra?
Meu amor por você não se importa pelo fato de que as mulheres são impossíveis de se entender.
Eu te amaria (tanto) se te entendesse?
Eu viveria sem amar uma mulher?
Eu faria da regra uma exceção?
Nosso amor é algo que não existe.
Não nos amamos.
Não queremos um homem
Não queremos uma mulher
Seriamos incapazes de viver um sem outro
Que sejamos nós
Eu e você
Não você, você.

A caverna de Flavião

Houve uma explosão, uma terrível explosão! Um estrondo ensurdecedor... foi uma explosão muito forte. Acabou com o mundo, soterrando uma pequena criança em uma escura e fria caverna. Ela cresceu ali, em meio às ilusões que se criavam nas paredes. Com o passar do tempo ela foi aprendendo a organizar as ilusões e como trabalhar com elas. Com o passar do tempo, ela aprendeu a separar seu amor intangível de suas fantasias, que se misturavam em meio ao álcool que pingava da estalactite. A fumaça que subia de um pequeno vulcão exalava um gás que alimentava as ilusões e mantinha viva aquela criança. Ela passava o dia trabalhando organizando as ilusões, que para exemplificar como eram, preciso que imagine uma pessoa absorvida pela televisão. Porém, as ilusões eram coisas da sua cabeça, enquanto a televisão é uma fábrica de ilusões na cabeça desta pessoa. Naquela caverna ela era feliz, pois tudo funcionava à sua maneira. Mas conforme ela crescia, a caverna ficava cada vez menor. Era preciso mais espaço para mais ilusões. Enquanto o álcool pingava, aumentava a estalactite. Cresceu até o dia em que tampou a saída do pequeno vulcão, secando o riacho q se fazia e eliminando o gás que recheava o ambiente. Neste dia, uma grave crise assombrou nosso(a) personagem. As ilusões passaram a perder o sentido enquanto as dúvidas eram como assombrações. Cada ilusão arquivada gerava uma dúvida. Para reponde-las, foi preciso sair da caverna. É por isso que você está aí.

Friday, August 25, 2006

modelo

Franz Frederick Manolo era um ambicioso inventor empreendedor. Para se manter sempre concentrado e obter resultados satisfatórios, tinha uma “teoria do copo cheio” que dizia que mantendo-se o copo cheio de um determinado líquido, você não faz mistura, e consome somente aquilo. Quer dizer, nunca deixe seu copo de suco acabar, se não você parte para a cerveja, pois nunca irá misturar suco com cerveja no mesmo copo.
FFM foi a primeira pessoa que contou com quantos paus de faz uma canoa, além de ter sido o grande inventor da Repimboca da Parafuzeta. Alguns também atribuem a ele a invenção da roda, mas há divergências quanto a isso.
A esposa de FFM engravidou e deu à luz uma linda menininha. FFM sempre teve a idéia de realizar apresentações em programas de TV com coisas absurdas. Agora era a hora! Tão logo a menina nasceu, impôs-se que na casa de FFM só andava-se de pernas de pau. Isto era pra condicionar o aprendizado visual da criança, que teria maior facilidade para andar com pernas de pau. Ao completar três meses de idade, FFM iniciou os trabalhos práticos para q a menina conseguisse andar nas pernas de pau o mais rápido possível e aos 8 meses ela já andava com uma destreza circense.
FFM inscreveu ela no Livro dos Recordes, o que serviu de argumento para a exibição em programas de TV dominicais. Era um sucesso absoluto! FFM tinha achado a fórmula da fortuna.

Monday, July 24, 2006

O Papa era pop... agora é underground

Há algum tempo me mudei para este vilarejo, no qual também habita um imenso dragão de cinco cabeças. De tempos em tempos ele acorda furioso e ataca a vila, cuspindo fogo em tudo o que vê. Não podemos fazer nada, a não ser recomeçar nossas vidas materiais. Quando cheguei aqui, percebi que as coisas eram diferentes. Muitas pessoas (às vezes famílias inteiras) saíam da vila fugindo do dragão. Algumas voltavam, mas ninguém entendia o porquê. Mesmo que explicassem que o pior dragão eram as próprias pessoas que encontravam em outras vilas. Mesmo que explicassem que tudo era caro e que precisava se ter tudo. Mesmo que explicassem que sem nenhum ataque de dragões furiosos pirotécnicos, as pessoas se desfaziam de seus bens construídos em busca de novos bens adquiridos. Ninguém entendia que as cinco cabeças do dragão eram apaixonadas por cinco diferentes camponesas. Apenas eu, que invadi seu sono e tive coragem de acordá-lo. Fui capaz de entendê-lo, apesar do forte mau cheiro que se fazia. Pedi para que parasse, pois machucava as pessoas. Ele disse que estas não o preocupavam, pois sempre partiam. Ele queria proteger as suas camponesas dos males que vem dos outros vilarejos. Expliquei que não era o método mais apropriado. Aconselhei-o que as trancassem no alto de uma torre. Assim estariam todos salvos, as camponesas e a vila. Ele retrucou dizendo que isto é lenda. Pensava em quase desistir quando perguntei: se queres mesmo a felicidade delas, porque então não as deixa ser feliz? Ele disse que só um pode ser feliz, em toda a vila. Em todas as vilas. E que naquela vila, era o dragão e suas cinco cabeças. Era curioso, mas somente uma discursava comigo, outra dormia, outra comia, outra prestava atenção parecendo não entender nada enquanto outra brincava de cuspir fogo nos insetos que se aproximavam. Pedi para que se colocasse no lugar das camponesas e dos habitantes da vila. Ele me disse que seria impossível tal realização, pois dragões são dragões e que era mais fácil eu me colocar no lugar dele. Meio irritado encerrou por me expulsando da vila. Sem mais nenhum mais. Pediu para que eu fosse rápido. Sabia do ele era capaz e assim o fiz, pois para ele, eu era um mal que vinha de outro vilarejo. Na noite seguinte, o mesmo dragão invade meu sono, infestando minha casa de mau cheiro e me pergunta se eu tinha alguma paixão. Respondi que sim. Ele perguntou se era da vila e respondi que sim. Perguntou se era uma das cinco camponesas e respondi que isso não fazia diferença. Ele insistiu e como estávamos sendo francos disse que sim. Ele então perguntou se eu queria ajuda e eu disse que sim. Ele perguntou se eu queria ser o dragão e eu disse que sim. A sexta cabeça? Sim!

Wednesday, July 12, 2006

Marginais

Seguir o leito por entre as margens, sem deixar que se vazem
As frases que se escrevem entre as margens, montam textos justificados
De um lado eu aceno, do outro não vejo
Meu amor perdido, do outro lado da margem
Que paralela direciona os destinos sempre em direção ao mar
De onde veio, a afundar
As margens alagadas, que separam nosso amor
E que justificam nossos textos

Monday, July 10, 2006

Movimento Anti Horário

Após completada a primeira volta no sentido anti-horário, o Movimento optou por se auto destruir. Os argumentos de que é impossível ser o Diabo quando não se vive no inferno pesaram neste fim. Ser o Diabo é ser tão diabólico a ponto de se criar Deus, apenas para valorizar sua maldade. Neste caso, nos extremos estão os abismos e não o âmago da aprendizagem. Neste caso, o movimento perdeu seu sentido, optando assim pela autodestruição.
Grato pela sua compreensão, a Coordenação.

Wednesday, July 05, 2006

Movimento Anti Horário

Ontem fui à uma peça. Antes precisei matar uma hora de tempo, pois cheguei uma hora adiantado à bilheteria. Era algo meio Hitleriano que me dizia me dar a certeza de que uma hora antes eu teria o ingresso (que era gratuito) em meu poder. Enfim, por falta de criatividade fui ao bar mais agradável mais próximo, cuja peculiaridade é um banheiro com um mictório invisível. Sim, pois no local do mictório há um aviso: “com defeito”, porém não há mictório algum, a não ser a marca no azulejo que remete à existência outrora de um mictório, além da luz funcionar por meio de um sensor que a acende assim que você adentra ao banheiro. O interessante é que ela sempre apaga enquanto urina. Urinar no escuro é como tocar sem retorno ou assinar sua carteira de motorista. Curiosidades à parte, bebia eu como se esperasse alguém. E ela veio. Em minha direção. E não veio só... trouxe consigo aquela pele morena que me lembra o primeiro chocolate ao leite que como na Páscoa. Um pouco mais clara, talvez pelas constantes neblinas que caracterizam nosso inverno. Trazia também aquele cabelo cacheado, que vindo contra o vento a deixava em câmera lenta. Longas pernas que caminhavam em minha direção a passos de passarela. Disto tudo só sobrou o perfume. Ela passou sem nenhum olhar que cruzasse os meus. E eu continuava a beber como se esperasse alguém. A hora passou e fui à peça que me serviu de uma única coisa: não beba antes das peças. A incontinência urinária que se segue interrompe a atenção e a preocupação de levantar-se e atravessar todo o teatro por entre as pessoas interessadas, ainda no começo da peça, agrava a sensação de ter cometido um grande equívoco.
Saí em direção ao banheiro e pensei: neste exato momento, deixo de acreditar em Deus. A partir deste exato momento passo a conviver com a presença contínua do Diabo, pelo menos em minha consciência. Ora, que sentido faz viver limitando-se contra pecados, quando nos extremos está o âmago do aprendizado. Criei assim uma figura diabólica, a qual me perturba insistentemente, com a qual deixo de lutar e passo somente a obedecer. Luto agora contra o conservadorismo com os qual os pecados nos limitam. Ou melhor, nos impedem de aprender. Dizem que ensinam com os erros dos outros, pois sendo assim farei escola. Vendo cursos. Pois se há prazer em alguma coisa, eu tenho em acertar. Para mim, errar é um processo. Não uma prova para julgamento.
Caminhava com este pensamento e uma rede semântica fulminante, como as que tenho constantemente como espasmos, me iluminou dizendo: leia o livro “o Universo em Desencanto”. Interpretei à minha maneira e hoje faço parte, até então como único membro, do Movimento Anti Horário.
Se quer saber mais sobre o Movimento, antes é necessário que quebre o vazo de porcelana chinesa art-nouveau de sua mãe. A inscrição é um conselho. Assim você passará a ser automaticamente um conselheiro do Movimento.
Verbalize

Friday, June 30, 2006

Apocalipse now

Pensei ter chegado o grande dia. Podia ouvir os anjos tocando as trombetas anunciando o apocalipse. Eram bem mais que sete. Eram muitos os anjos. Eram muitas as trombetas. Como eu não me vestia de laranja e não era careca com um rabinho de cavalo na nuca, sabia que não seria um dos escolhidos. Aproveitei para sair à janela com toda a virilidade e astúcia enérgica que um impaciente teria ao ser acordado por malditos anjos tocando trombetas. A polícia já havia proibido o som alto que saía dos porta-malas, mas nada de proibir trombetas. Enfim, fui à janela, como disse, e num grito de engasgar trombeta, gritei aos anjos: “ENFIEM ESSAS PORRAS DE TROMBETAS NO MEIO DO CÚ E EXPLODAM, SEUS FILHOS DA PUTA!”.

Nunca apanhei tanto na vida.... nem mesmo quando quebrei o vaso de porcelana jogando bola na sala de casa. Mas que culpa eu tenho em não gostar de futebol? Por que deveria saber que estavam comemorando o tal do hexa-campeonato? Malditas trombetas...

Saturday, June 17, 2006

Números Complexos

Hoje cedo, saindo de casa, um gato branco atravessou meu caminho. A previsão do tempo já havia me alertado sobre a entrada da frente fria. Um senhor que caminhava logo a frente deixou cair um papel. Assim que peguei, gritei para alertá-lo. Infelizmente, como tampa de caneta, sumiu rapidamente sem que pudesse fazê-lo. Só poderia certificar-me da importância do papel abrindo-o. Percebi que era uma espécie de mapa. Me guiava por aquele mesmo caminho até duas quadras adiante, quando eu deveria virar a esquerda e descer na estação do metrô. Havia também um horário: 13h45. Também uma espécie de senha: 06. Achei que fosse importante e segui o mapa pensando em seguir o senhor, podendo assim devolver o mapa. No horário marcado cheguei à estação. Entrei no metrô que aguardava. Entrei na sexta porta, pensando na "senha". Nada acontecia e na sexta estação desembarquei. Um rapaz franzino, com uma camiseta vermelha estampada com uma estrela de seis pontas amarela olhava atentamente para a sexta porta da qual desci. Cheguei para ele e disse: "seis"! "nove", respondeu. Achei estranho, pois não sabia o que dizer.... mas fui obrigado a dar muita risada. Ele manteve-se sério e indagou-me: é o seis? Sou o nove. Onde está o primo? Primo? Que primo? O dezessete. Puxou um telefone celular e me deu. Quero que o encontre, disse. Estarei na fila do Mc Donalds. Não perca a hora. Entrou no mesmo metrô e desapareceu. Neste instante pensei estar louco, esquizofrênico, paranóico ou algo parecido. Nada fazia sentido. Porque? Porque eu deveria encontrar o dezessete? Fui à rua, parei, olhei, escutei e assim que passou o trem algo me disse: décimo sétimo vagão! Contei e não tinha nada. Provavelmente não tinha nada a ver. Lembrei do celular. O que fazer com o celular? Fui para a agenda e todos estavam listados por um número. Primeiramente liguei para o seis. Algo vibra em meu bolso. Não. Não podia ser verdade. Mas era. Liguei para o dezessete. "Número inexistente". Eu insistia em discar e a gravação insistia e me dizer. Mas em qual Mc Donalds encontrar o nove? Não sei porque, mas fui direto a polícia. Contei a história ao delegado. O delegado me levou ao xadrez e me apresentou o numero um. Primeiro eu queria abraçá-lo, afinal era o "número um"! O delegado me pediu o celular. O número um disse que não podia ajudar, pois depois do "dois" ele foi preso e perdeu o total controle da situação. Era a hora de encerrar aquilo. Na verdade, nada tinha motivo ou ligação. Era apenas uma forma de intriga. Um jogo de dependência, no qual o número um era o único que ganhava, pois todos iriam a um local de encontro e pagariam a ele por uma passagem de volta. Mas como o mapa? O telefone? Descobrimos que o dezessete não existia. Tínhamos que inventa-lo e aguardá-lo no local combinado. Assim fizemos.
Na manhã seguinte, o carteiro deixa uma carta na caixa de correio do dezessete. Ele havia ganhado um brinde na loja de esportes da cidade. Surpreso e feliz chega ao estabelecimento e realiza a troca. Recebe como brinde uma camisa da seleção brasileira número dezessete nas costas e uma entrada para o teatro: 21h, poltrona 17 J. Presenteado, o dezessete foi à peça. Na poltrona 21h havia a mais linda mulher que pudera ter nascido. Ao fim da peça ela dirigiu-se ao Mc Donalds próximo ao teatro e pediu um número dois. Ele chegou ao lado dela e pediu um número quatro. O número nove aguardava na fila. A mulher disse que havia reparado nele na peça e pergunta onde estava sentado. Ele responde: 17 J. O número nove me chama e nos aproximamos do dezessete. O senhor não é felizardo da loja de esportes? Sim, acho que sou. Quer concorrer a outro bilhete de sorte? Vendemos rifas de festa junina para a Associação das Beatas Franciscanas da Comunidade do Rio do Bambuzal. O sorteio dará uma TV de plasma de 21 polegadas. O dezessete compra o bilhete, o lanche e a vinte e um. O nove me parabeniza e me agradece. Me dá uma percentagem, uns tapinhas nas costas que não quis contar e como uma tampa de caneta, desaparece na multidão.

Monday, June 05, 2006

Um nó

“O mapa está errado! O mapa está errado!” repetia Lincon. “Como? Como?” Repetia Mara. “Não sei, não sei, mas este rio não está no mapa... não sei onde estamos... o mapa está errado!” “Como? Como?” estacionaram o jeep, olharam ao redor. Nada parecia com o roteiro que haviam planejado. Voltar? Começaram a abrir a mata, e próximo ao rio armaram a barraca. O som da natureza silenciava o casal, recém casado. O sol se pôs, e uma lua laranja de proporções imensas começou a invadir o céu. As estrelas pareciam purpurinas no lençol negro que os cobria. Pássaros de espécies raras para um leigo cantavam a serenata que embalava o amor de Lincon e Mara. Aos poucos a fogueira que haviam feito para se esquentarem e espantar animais selvagens foi se apagando a medida que o sono os dominava. Ao acordarem, um banho nu no rio e algumas dúvidas: o que fazer nos próximos 5 dias? Não havia ali perto, a princípio, local para a compra de comida, artigos de higiene ou mesmo distração. Optaram por encarar a aventura. Ficaram por ali pelos próximos 5 dias, economizando alimento, banho de ri, pouca distração, muito amor e muita leitura dos livros que levaram. O tempo colaborava com um calor ameno, uma brisa que só o interior da Mata Atlântica proporciona, com o ar mais puro que os pulmões podem respirar. Uma chuva caia ao fim das tardes, dando de beber às raízes fortes que alimentavam os pássaros que fomentavam o desenvolvimento. O diálogo aos poucos foi se esgotando ao passo que os assuntos eram infinitamente explorados. O humor já não era o de uma criança no parque de diversões. Nos livros eram felizes para sempre, mas a vontade era mesmo a de fumar tudo o que haviam levado e esquecer a impaciência de não ter paciência. Os dias e as noites já não tão indiferentes. Alguns passeios curtos pela mata, banhos de rio, músicas no violão... e a desilusão de não estar feliz. Ao fundo a preocupação era a de viverem o que haviam planejado: fotos juntos em famosos pontos turísticos pelo mundo, um apartamento moderno, um carro para cada, jantares a dois, cinemas, teatros, amigos, filhos e o desabafo do stress após um dia tenso de trabalho. Nada disso acontecia naqueles cinco dias de recém casados.
- “A culpa é sua que não sabe ler um mapa!”
- “ah, ta! E placa, você sabe?”
- “como você não sabe fazer um bife?”
- “e seu ovo, então, é pior que o da empregada que tive aos nove anos...”
- “Sério, se for assim pra sempre, não vai dar”
- “concordo, não vai dar... nem pro mesmo time torcemos”
- “ai não, né? nem venha, nem a pau que mudo de time ou ir ver o seu jogar”
- “Mas eu te amo tanto....”
- “será? Eu já não sei se era amor...”
- “o que?”
- “é, é isso mesmo. Não é isso que quero pra mim. É melhor tudo acabar agora que ficarmos nos desgastando tentando uma coisa que nunca vai dar certo. Foi muito bom você não saber ler mapa, porque já vi que nunca ia dar certo”
- “me ajude a desmontar a barraca”
- “apague a fogueira”
- “não esqueça as suas roupas perto do rio”
- “junte o lixo ali do lado”
Entaram no carro, voltaram para casa. Cada um para sua casa, para nunca mais se verem.

Pois é.... também fiquei de cara.

Tuesday, May 30, 2006

Cacofonia

Hoje eu quebrei a rotina e espalhei os cacos
Eram tantos cacos... todos atendiam pelo mesmo nome
Era impossível me desfazer da rotina, pois cada caco era parte dela
Estamos rodeados de cacos, pensei
Cada um ao nosso redor, é um caco
O animal, o vegetal, o mineral, o temporal, o atemporal, o social
Quanto mais um quebrava, mais cacos eu fazia
Mais aumentava minha rotina

Decidi juntar tudo
Colar os cacos e fazer um caco só
Ficou gigante
Um caco gigante
Uma rotina estressante, tudo eu tinha que anotar para não esquecer

Juntei tudo e joguei fora
Apaguei as anotações
dei um fim na rotina
não há mais caco(s) para onde olho

é como um museu sem obras
estava feliz assim, até que sem querer quebrei a rotina
um chute errado, mal direcionado
espalhou os cacos
tentei juntar e colar tudo antes que minha mãe chegasse do trabalho e visse
brigasse comigo, mas não deu tempo
apanhei até a aprender nunca mais quebrar a rotina
minha mãe guardou-a dentro do vaso de porcelana chinesa art-nouveau

Mas é estranho saber que hoje eu posso acordar, mudar tudo e dormir.
Acordar arrumar tudo e dormir.
Passar o dia dormindo
Passar o dia acordado
Fazer algo hoje e amanhã apenas lembrar
Fazer algo hoje apenas para lembrar
Viver o amanhã para justificar o hoje
Mudar o amanhã para justificar o ontem

Isto tudo está guardado dentro daquele vaso
Quanto vale aquele vaso?

Tuesday, May 23, 2006

Eu vos declaro

Você ainda espera minha cicatriz,
para viver e ser feliz.
Me encontra em cada canto
Negou o espanto, chora aos prantos.
Sente saudade
Passou da idade
Procura lealdade
A cura para uma morte

Insegura
O cinzeiro espera o cigarro
A nuvem a chuva
E o tempo que passa o calor da brasa
Mantêm fogueira aquela fogueira

Quero ser o prefeito desta cidade chamada Coração
Ser perfeito
Feito pro não.
o caroço da sua reação
o impulso do seu suicídio
o elo entre medo e o suplício

ser separado da vida
como óculos
indispensáveis
uns para os outros

calha na chuva
placa de estrada
tatuagem arrependida
nanquim
é você pra mim.

Monday, May 08, 2006

Uma postura inadequada

Não se vacine
Não se anestesie
Não se preocupe
E por favor, não assine

Você estudou
Trabalhou, treinou
Criou, praticou
Desenvolveu, conquistou
Comprou

Uma coisa é estudar
Uma coisa é trabalhar
Uma coisa é treinar
Uma coisa é criar
Uma coisa é praticar
Uma coisa é desenvolver
Sim senhor
Uma coisa é conquistar
Outra é comprar
Não senhor

Precisei conhecer a medicina
Passei a entender a medicina
Passei a estudar a medicina
Passei a trabalhar a medicina
Passei a criar a medicina
Passei a praticar a medicina
Passei a desenvolver a medicina
Passei a treinar a medicina
Passei a conquistar a medicina
Nunca tinha pensado em comprar
Medicina
Sim senhor, bom senhor
Não senhor; por favor, senhor
Se não sou senhor
Sou comprador
E agora, peçaPor favor

Se doer, funciona.

Filhinho de peixe
peixinho é
Só que eu troquei as escamas
deixei as cores
Aumentei o brilho
E o reflexo
Verei cassado
E fui pescado

Pra sem cabeça
Fritar na manteiga
À milanesa
Com alcaparras
Acompanha arroz
Fritas e saladas
O cartão, amor
Obsessão, valor
Filme, terror
Sua turma - pagos

Tuesday, March 28, 2006

Se ainda não conhece meu poder:

Um coração sangra um atentado. Sucumbe à esfera rígida de um grande amor. Pressionado, chora feito uma criança que ralou o joelho, de tanta dor. É o amor, diz o cantor. Papel e caneta sobre a mesa, bacardi lemon com gelo e energético a caminho da boca, Ema Thompson tragando os ouvidos, o cheiro da porção de calabresa quase saindo e no telão Assassinos por natureza. Apago o charuto, dou um gole na bebida, clico a bunda da caneta e ao papel desfiro minha cólera. Me alivia a angústia reprimida reler aquela autoria. Puxo debaixo da mesa um violão e componho o refrão. A caixa chora. O barman deixa cair a garrafa de bacardi que manipulava circensemente a preparar minha bebida. O segurança tapa os ouvidos em tom de recriminação. O casal na mesa ao lado noiva. Não era a minha intenção. As reações me confortaram em saber que compartilhavam do meu sofrer. Só assim eu puder ver que estava sem saída. Como trancado dentro da latrina. Ou se preferir: “na merda”. Não havia remédio ou solução. Não tinha mais como pedir perdão. Era uma questão de controle emocional do tempo. Era mais fácil do que eu imaginava. Rasgar e amassar, jogar fora, queimar o papel com a letra passada. Um novo futuro escrever a partir da consciência formada. Fingindo aprender sem levar porrada. E surpreender a sua alma penada!

Monday, March 27, 2006

Comida Caseira

A felicidade não existe. Por tanto, não a almeje!
Isto acontece porque tudo o que você almeja, você planeja. Quando consegue, comemora.
Logo, a felicidade está nas comemorações de suas realizações.
Ou seja, planeje a sua felicidade.
Quando for comemorar, me convida?!
Muitas Felicidades!

Tuesday, March 14, 2006

Um final feliz, de propósito.

Estava sem tempero aquela maldita batatinha frita. Ainda por cima, muito gordurosa. Sem tempero e muito gordurosa. Fiquei imediatamente irritado, levantei-me e acenei ao garçom. O mesmo percebeu meu tom de fúria expressado pela minha face e acionou a outro garçom, como se este fosse o responsável pela minha mesa. Em todo caso, me irritei mais ainda, pois era nele que eu queria descontar minha ira por aquele transtorno. O garçom da minha mesa aproximou-se e cordialmente questiona-me se preciso de alguma coisa. Respiro fundo e ordeno para que se sirva de uma das minhas batatinhas fritas. Em tom de desentendimento ele recusa. Insisto. Recusa novamente. Obrigo. Desculpa-se e continua recusando. Pergunto o porque dele não querer a minha batatinha frita? E porque eu devo comer e pagar por aquela batatinha frita gordurosa e sem tempero?! Peço outra porção e que retire aquela da minha frente. Ou melhor. Só retire na chegada da outra (vai que devolve a mesma). Ele se nega argumentando que a outra virá igual. Sem tempero e gordurosa. Dou uma risada irônica. Ele me chicoteia dizendo que não encontrarei melhor na cidade. Caio em gargalhadas. Quero falar com o chef de cozinha. Consigo. Na cozinha, enquanto flambava em meio a uma labareda, o chef com sotaque francês me explica que a batatinha segue à mesa sem tempero para que o cliente o faça a gosto e que é gordurosa por natureza, já que é frita e é um pedido do cliente. Me explica também que as batatinhas fritas secas que conheço são industrializadas e cheias de produtos maléficos à saúde, para que possam ficar sequinhas e crocantes. Já as deles são secas à luz quente e escorridas, antes de passarem por um papel toalha. É a melhor da cidade. A menos gordurosa.
Um silêncio se segue até que o chef coloca na frigideira alguns camarões que fazem um barulho ensurdecedor de fritura. Aproveito para agradecer e me retirar. Pedi a conta, sem ao menos encostar na comida. Pensei estar fria.Me retirei do ambiente e voltei ao trabalho para mais uma tarde encalorada no escritório, perdendo minha atenção nas pernas cruzadas da secretária. Naquela tarde fiz mais um anúncio na minha vida. Mais um premiado como o melhor do ano. Este na categoria restaurantes, com o título “se a batatinha frita é segredo do chef, imagine o Camarão à Dougndues. Restaurante Jardim de Viena. O Melhor da Cidade.”

Wednesday, February 22, 2006

Deus madruga quem cedo ajuda

O sol já nasceu
O galo já cantou
Pássaros ainda cantam
É um bom dia que eu espero
O despertador agora toca
Como uma sirene que eu fujo
E me acorda
De um sonho bobo
Embora fujo
É um bom dia que eu espero
É uma batalha que eu luto
É um sonho embora bobo
É uma batalha da qual não fujo
Mas um dia
O dia acaba
A noite vem e nos corrompe
A pena é igual, pagar
Dormir, sonhar

E nunca esquecer de o despertador ligar

Wednesday, January 25, 2006