Thursday, December 15, 2011

Ponto final: exclamação


As piores coisas do mundo são aquelas que eu faço. Não é porque eu não goste do que eu faço nem por eu ser malvado. Não. Também não é porque eu faço mal as coisas que deveria fazer bem. Mas definitivamente as piores coisas do mundo são aquelas que eu faço. Quer um exemplo? Por exemplo... escrever! Escrever é a pior coisa do mundo e é uma coisa das coisas que eu faço. Não fazer bem não a torna pior. O que a torna pior é eu saber que poderia fazer coisa melhor. Eu adoraria, por exemplo, neste momento ser apenas um leitor e poder desistir agora mesmo. Mas eu não posso, pois preciso escrever até as últimas letras. De modo que estas últimas futuras letras sejam as primeiras da nossa próxima conversa. Sendo assim, o fato de reconhecer que eu faça as piores coisas do mundo não me torna um apaixonado pela tortura, tão pouco pela autoflagelação. As piores coisas do mundo são aquelas que eu faço. Por você!

Sunday, November 20, 2011

Ahn?


Se sente o guerreiro das suas inconformidades
Habita o que transforma: o movimento em sua forma
Se a distância não orienta, se um beijo não desorienta
E a guerra não traz soluções
Por que então se inconformar?

Wednesday, November 16, 2011

Amor postal

Não

Vou abrir mão
De viajar
Pra te conhecer

Não

Eu não abro mão
Pra ficar aqui
A te esperar

Vou

Vou viajar
E toda vez que eu me deitar
Vou encontrar você

Sunday, October 23, 2011

A novidade era o máximo

O mesmo peso
O mesmo corte de cabelo
O mesmo sorriso
O mesmo corte de vestido
A mesma barba
Mesma conversa fiada

E mesmo assim
Um novo filme
Todo domingo

Sempre haverá uma novidade

A mesma estampa
A mesma camiseta branca
O mesmo remédio
Sempre um pouco mais forte
Um novo disso
Sempre querendo aquilo

Pra todo amor,
um eu te amo

Sempre haverá uma novidade

Sunday, October 09, 2011

Um brinde!

Entrei sozinho no bar. Pedi uma cerveja de bom gosto, com preço acima da média, a fim de transformar aquele momento de 265 ml de prazer em algo igualmente surpreendente. A cerveja tem alguma coisa que ativa no cérebro o nosso lado humorístico. Transformamos qualquer comentário em uma bela piada e toda piada se torna um comentário inicial para uma conversa de bar. Seja homem ou mulher, sempre haverá um assunto em comum. As horas passam, assim como a vida. E uma noite tão agradável se perde na memória ressaqueada. Assim como o dinheiro. Eu pensava nisso no dia seguinte, preso no congestionamento, enquanto o motorista do táxi insistia em debater sobre a lei do desarmamento. Ele percebeu meu olhar fundo, meu pensamento distante, minha cara de interrogação. E me convidou para um exercício de relaxamento mental nas terças feiras as 20h30, com um grupo especializado. Fui, em busca de concentração. Encontrei muito mais que isso. Encontrei uma pessoa que sabia reconhecer o meu lado humorístico sem uma taça de vinho em mãos. Uma pessoa que sabia conversar sobre qualquer assunto sem se preocupar se está sendo chata. Encontrei uma preocupada com o amor e o respeito. Uma egoísta que queria o bem de todos. Encontrei a mim mesmo. E saímos comemorar este encontro, num bar!

Sunday, September 11, 2011

dois pra lá, dois pra cá

Como consegue
Atinge
E admira
Ter uma vida
Como uma paisagem
Bucólica

Uma serpente
Hipnotiza
Me conquista
Te ver dançar
E eu me entrego
Pra ser seu par

Uma tarde
Já está tarde
Era tarde
Tarde demais

A calçada
A areia
A praia

Amo você

Tuesday, August 23, 2011

IGUALANDAR DE BICICLETA

Até minha infância, me recordo bem de meu pai aparecendo na TV. Na época não se tinha internet, então não era possível acompanhar a repercussão em todo o mundo de seu nome, embora a Lúcia fosse uma assessora de imprensa com muita competência. Lúcia por sinal é minha mãe e está escrevendo um livro sobre a história de vida de meu pai. É um relato para a memória do País. Nunca poderemos esquecer a braveza com que ele disputava a Volta da França, mesmo com equipamento inferior. Seus dois títulos foram os únicos troféus desta nação naquele torneio, que é talvez o mais importante do esporte. Hoje em dia meu pai está adoecido. Há anos não pedala. Já eu vim estudar medicina há mais de 500 kilômetros. Me formei ao fim do ano passado, mas há 12 anos eu já moro sozinho e bem longe de casa. Por todo este tempo eu acompanhei meu pai somente adoecer. Suas vitórias eu vi muitas, mas não por muito tempo. E eu encarei aquela corrida para vencer. Eu não tinha outra opção para vencer na vida, como meu pai um dia havia vencido. Nos víamos até que com certa frequência semestral, mas a cada vez eu via que as coisas só pioravam para ele. Eu sentia que eu precisava voltar para casa. Mas como? E os estudos? E em pouco tempo eu consegui passar em uma residência em uma cidade vizinha a de meus familiares e velhos amigos. Havia um jeito de eu transformar aquela novidade e uma nova etapa da vida. Confesso que nunca fui atleta e nunca tive o tipo físico para tal, mas comprei uma bicicleta nova, equipei-a com algumas parafernálias próprias para viagem e saí pedalando em direção a minha infância. Foram longos 62 dias de estrada, muitas fotos e histórias para contar. Quando cheguei em casa, aquilo reacendeu em meu pai seu espírito competitivo e viver passou a ser o seu grande desafio. Contei-lhes então na mesa do jantar as minhas novidades e que estava voltando para ficar. Hoje pedalo com meu pai todos os dias e estamos com as vidas em plena forma e vigor. Felizes!

Sunday, August 14, 2011

DE BANDEIJA

Seu Adamaceno era um garçon já experiente. Atendia na casa desde 1998, muito antes da reforma de ampliação. Naquele dia Seu Adamaceno chegou em casa e comentou sobre uma mesa de 7 homens que consumiu muito vinho por duas horas no restaurante e que ao fim lhe deu uma boa gorjeta. Dia seguinte, já sorridente, Seu Adamaceno comenta que de novo aqueles homens foram ao restaurante, na mesma mesa e beberam outros vinhos, novamente por cerca de duas horas. Quando um dos homens pediu para fechar a conta, pensando na gorjeta Seu Adameceno deu o pulo do gato ao ser questionado se o último vinho era por conta da casa. Ele havia negociado com o dono algumas garrafas das melhores safras, as quais deixava na adega do restaurante somente aguardando estes momentos. Surpreendeu aos homens e ganhou os melhores clientes da sua vida, pois eles iam religiosamente todos os dias, de segunda a sexta . Foi assim por dois meses. Os meses em que a casa de Seu Adamaceno esqueceu a miséria. Era churrasco com os amigos. Era churrasco com os vizinhos. Era churrasco com o compadre. Era churrasco com a família. Passou a multiplicar o valor do dízimo e ganhar mais respeito na comunidade evangélica que frequentava. Se tornou pastor nas horas vagas e andava sempre bem alinhado. Homem de muita fé, agradecia fielmente aqueles 60 dias de dádivas. Até o dia em que os 7 homens entraram pela porta da frente do restaurante sacando armas até então só vistas no cinema anunciando voz de sequestro. Estavam sequestrando o estabelecimento. Todos ali dentro foram revistados e levados aos banheiros sem seus respectivos celulares, notebooks e ipads. Jóias e relógios de valor foram roubados. Seu Adamaceno, já conhecido dos homens, ficou de refém caso o plano necessitasse de uma garantia para a fuga. Do telhado do restaurante eles passaram a monitorar os sinais enviados pelos ratos de laboratório infiltrados nos esgotos da mansão que ia até o outro lado da quadra. Imagens e sons, frequências cardíacas, detector de metais e dados trocados via celular eram um pacote de informações que naquele momento já estavam mapeadas. O pesadelo de Seu Adamaceno ainda não havia começado. Os homens precisavam que alguém entrasse na casa pelos fundos e disparasse o alarme, chamando a atenção da empresa de monitoramento para a rua de trás. Pela rua da frente invadiram a casa e praticaram um dos maiores roubos bem sucedidos da história do crime organizado, sem mortes e sem a captura de nenhum dos 7 ladrões. Seu Adamaceno até hoje come o pão que o Diabo amassou no sistema prisional e continua pregando a palavra divina com a mesma energia que o motiva um dia voltar a ter a sua vida de garçon.

Friday, August 05, 2011

Uma lesão por esforço repetitivo

O cachorro que latia no portão anunciou a chegada do carteiro. Tomou a decisão de abrir o envelope. O tremor dificultava a ação da tesoura. Havia medo em suas mãos que escorria em suor. Do outro lado da sala, atrás da mesa, seu pai apenas aguardava com um olhar inquisidor. Ali perto, a poucas quadras sua namorada preparava-se para descer do ônibus. A leitura durou cerca de um minuto, o mesmo tempo que levou para sua testa franzida se transformar num sorriso maroto. O pai, do outro lado da mesa, agora em pé ansiosamente pergunta: passou? Neste momento toca a campainha e o cachorro late anunciando a chegada da namorada. Larga o envelope sobre a mesa próximo ao pai e corre para a garagem. Pega a namorada ali mesmo no portão e felizes vão comemorar presos no congestionamento.

Wednesday, July 06, 2011

Contra-Tempo

Beijei a lona
Senti a dor
Senti a perda
Senti muito
Por você

Mas o barco não afundou
O sonho não acabou
Não

Não passa de um sinal
De um novo tempo
De uma revolução
Um renascimento

E de nós depende
Aprender
Rever
E partir

Tuesday, June 14, 2011

Assassino por Natureza

Aproveitei a hora do almoço para matar o tempo. Bati o ponto prontamente ao meio-dia e saí patinando do estacionamento. Queria chegar o quanto antes no local planejado, uma árvore alta, de grosso caule, longos galhos e infinitas folhas que escondiam os pássaros que faziam coro ao sol. E nem os óculos escuros tiravam o brilho daquele céu azul. Levei comigo as minhas armas: um tererê gelado, uma maçã e uma carambola, um livro já lido pela metade e meu ipod. Me certifiquei de não deixar rastros e de que não haveria testemunhas. Seria o crime perfeito, não fosse o protetor solar esquecido na gaveta do escritório. Eu seria considerado inocente se ainda fosse um réu primário. Tão logo retornei do horário de almoço, fui imediatamente abordado, pois minha pele morena se mostrava bronzeada. Enquanto as pessoas haviam passado seu horário de almoço limpando a caixa de e-mails, organizando planilhas, agendando reuniões, cortando o cabelo, fazendo a unha, escolhendo presentes, pagando contas, apostando na megasena, postando no facebook, eu estava lá, matando o tempo. Como um criminoso que mata, por matar.

Tuesday, May 31, 2011

12 de Junho

O Dia dos Namorados se aproxima e minha irmã mais nova está uma pilha, pois não sabe se o garoto com quem sai há 3 meses lhe dará um presente ou não. A todos pede uma opinião do que deve fazer. Não sabe se compra algo, se cria expectativa, se espera uma conversa mais franca sobre o assunto, se toma a iniciativa. Uma insegurança que não se vê com meus pais. Todos os dias dos namorados eles viajam para passar o final de semana em algum hotel que faça um programa romântico. É assim há 30 anos. Meus amigos adoram aquela coisa broxante de ficar na fila do motel e também conheço uns que programam de ir ao cinema do shopping lotado. Tem gente que acredita que flores e chocolates são a caricatura do amor, já outros preferem se beneficiar de alguma promoção num restaurante japonês. Não podemos deixar de fora o clássico carro de tele-mensagem com uma cesta de café da manhã. Pra mim não importa se o presente é da Prata Fina ou Boticário. Se saímos de mãos dadas ou em carros separados. Um dia minha irmã mais nova vai saber que o Dia é dos Namorados.

Sunday, May 29, 2011

Delivery

Aquele rigoroso inverno havia lhe queimado a pele de modo que não podia sair de casa por alguns meses. Neste período, recebeu as mais variadas visitas. Assistiu a incontáveis filmes. Leu inúmeros artigos. Até chegar o verão. Com o sucesso do tratamento, arrumou as malas, pegou seu carro e foi à praia. Em poucas horas sua pele sensível e sulfitelmente branca após meses sem sair de casa, embora besuntada em protetor solar de elevado fator de proteção, se via novamente queimada, porém agora pelos raios ultravioleta que passam pela camada de ozônio como se tivessem ingresso VIP para um evento. Novamente se viu meses em casa, em tratamento. Após descascar como um réptil que troca de pele, passou a receber visitas com mais frequência. Divertia-se com as histórias dos amigos que saíam para se divertir, com os que voltavam de viagem com presentes, dividia emoções com os apaixonados, conhecia os familiares recém nascidos e degustava da mais saborosa gastronomia nos jantares que oferecia. Chegou o outono e o fim do tratamento. Junto chegou uma frente fria que até matou de frio, mas havia apenas lhe queimado a pele sensível e sulfitelmente branca.

Wednesday, March 23, 2011

Natasha

Viajei escondido da mulher
Mas não tinha esquecido
Tirei tudo do carro
Tudo o que podia revelar
O que nunca poderia ter acontecido
Tirei o energético, ticket do posto
Ingresso, pedágio, qualquer coisa
Tirei tudo
Boneca inflável, tigre branco
Limpei os tapetes, deixei revisado
Limpo, lavado
Os 88 quilômetros rodados

No dia seguinte, depois da saudade
Um detalhe que rolou pelos pés da mulher
Seu nome Natasha, como um bilhete
Numa tampinha de vodka

Natasha, que dor de cabeça você me deu!

Monday, March 07, 2011

Grito da Boca Maldita - Carnaval de Curitiba

No Rio de Janeiro é em fevereiro
Em Salvador é o ano inteiro
Eu não vou dizer que gosto
Nem vou dizer que odeio
Eu só vou dizer que em Curitiba
ninguém cala a minha boca
Maldita

Hoje não é domingo de atletiba
Então ninguém precisa de polícia
E nem a pau eu vou a missa
Porque eu já nasci santa
Felicidade em curitiba
Quem é que beija a minha boca
Maldita

Petit pave pra gringo ver
Se tem favela vou esconder
Vamos sorrir
Com a nossa boca
maldita

RELUZ

Teve um dia em que sol brilhou mais forte e mostrou um novo universo. Havia um caminho na trilha da curiosidade, um cheiro quase que um chamado. E eu fui sem me despedir com a expectativa de logo voltar. Mas fui ficando. Fui gostando. Me iludindo naquele universo paralelo. Aguardando um dia em que o sol brilhasse mais forte novamente e me mostrasse o caminho de volta. Mas a música era tão boa. A dança era tão mágica. Sua natureza era mais bela. Sua água era mais limpa. O ar era mais puro. E por um tempo me esqueci que eu não era dali. Por um tempo eu era feliz por andar nas ruas como inocente. Só neste universo havia o seu sorriso. E sem querer eu fui ficando. Até ser descoberto e sem ser entrevistado, um sentinela me mandou de volta pra casa, pelo caminho que eu não sabia voltar. No momento só estou esperando aquele sol que um dia brilhou mais forte.