Monday, June 08, 2020

Carta a um amigo

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita

Mas te escrevo, como respeito aos nossos encontros.
Tenho aqui guardado alguns de seus discos,
inclusive de Chico Buarque.

A coisa aqui ta preta.
E infelizmente imagino que não tenha passado pelos melhores dias por aí.

Você disse combater o bom combate.
E sou testemunha do seu esforço.

Você disse ter completado a corrida.
E sou testemunha da sua chegada.

Você disse ter perseverado na fé.
E sou testemunha das graças.

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades.

Mas se a vida até aqui me foi boa,
é porque fui seu bom combate.

Se hoje eu sou alguém,
é porque você completou a corrida.

E se hoje lhe escrevo,
é porque perseverou na fé.

Deus sabe o quanto é difícil pra mim deixar passar o vento.
Deus sabe o quanto é difícil pra mim deixar escorrer a água.
Deus sabe o quanto é difícil pra mim deixar vibrar o som.
Deus sabe o quanto é difícil pra mim deixar a vida viver.

Mas sem Deus,
Ninguém segura esse rojão.
E o que é Deus se não o amor.
E o que é o amor sem perdão?
Por tempos fui duro em lhe perdoar. Sabemos.
E eu sabia que de você só emanava amor.
Se o errado era eu, por que então eu julgava como errado você?
Se me bastam os discos e a bola de basquete,
o caderno passado a limpo,

as aulas particulares de matemática,
as medalhas da natação,
a cura da bronquite,
o judoca que há mim.
A caligrafia e o tom de voz,

as filhas, hipocondrias e epifanias,
gentileza, empatia e vitória.
Não do seu time,
como eram iniciadas as ligações telefônicas dos domingos à noite.
Meu caro amigo me perdoe, por favor.
Já sei que passas bem.
Que estás curado.

E que não lhe fiz uma visita.

Passo dificuldades,
mas sinto estar combatendo o bom combate.

Ainda tenho uma longa corrida,
mas espero completá-la.

Embora eu me sinta abandonado,
não deixo de perseverar na fé.

Deus tem um propósito para mim.
E você fez parte dele.


Obrigado!

A todo pessoal,
Adeus