Monday, December 20, 2010

OPINIÃO

Sou do tipo que muda de opinião sempre que a minha opinião deixa de ser a minha opinião já que agora a minha opinião mudou sobre a minha opinião quando você passou a ter a sua opinião sobre a minha opinião, passando a ser a minha a sua opinião de modo que a sua opinião ou muda ou não é mais a minha opinião.

Friday, December 17, 2010

do que você quiser

Me chame
Apenas me chame
De meu bem
Nenêm
Ninguém
Me chame
De bandido
De coração
De amigo
Teu chamado
De insensível
Me chame
De vício
De chato
De lindo
De meu chão
De
meu mundo
Te chama
De paixão
De bela
De flor
De vida
De
mulher
Me chame
Apenas me chame
De amor

Monday, November 15, 2010

RECAÍDA

Sai na surdina
Com a razão da despedida
Deixa recado nos seus dizeres
O retrato dos nossos prazeres

A gente se encontrou
Com a sede de um chopp gelado
Não deu pra resistir
É amor inacabado

Sem querer eu sabia o que eu queria
Como é bom sentir o sabor da recaída

Precisava ter tido uma ideia
De ter tido outra vida
A melhor coisa que eu fiz
Não me convencia

O tempo acabou
Conheceu a cachoeira
Cresceu e viu o mundo
O tamanho da queda
A força que o salvou

Sem querer eu sabia o que eu queria
Como é bom sentir o sabor da recaída

Depois que o time venceu a partida
Das memórias que eu tinha
Gritar com a torcida
Que é campeão

Aquele gosto doce
Colosso
Não importa mais

Sem querer eu sabia o que eu queria
Como é bom sentir o sabor da recaída

Friday, September 10, 2010

#porumavidamelhor

Segunda-feira é dia de começar uma nova dieta. Vou tirar das minhas frases a palavra “preciso”, sem correr o risco de pronunciar o “necessito”, já que raramente o fiz. Acredito que perderei um bom peso na consciência com essa atitude. Também faz parte da dieta evitar em qualquer circunstância adiar pra dali cinco minutos qualquer obrigação, afinal, tempo é dinheiro! Falando em dinheiro, a dieta não permite que sirva como fator motivacional. A parte mais difícil será cortar por completo os problemas. Com essas e outras medidas, pretendo assim me tornar uma pessoa mais leve. Mais dinâmica. Mais feliz. É uma dieta #porumavidamelhor.

Friday, August 13, 2010

Ao inusitado

O cenário já não era novo. A mesma noite fria e o sereno de sempre. Aquele medo de esperar 20 minutos pelo ônibus às 3h30 da manhã já se contradizia à simpatia do motorista e à presteza do sonolento cobrador. Aquele senhor insistia em sempre pegar o ônibus comigo, independente do horário. Quando muito um garçon que já foi meu vizinho e um piá que vi crescer na sarjeta.
O cheiro de frigideira, bafo de álcool, vista de um bêbado e a dança de um mestre sala, malandro gafieira, de barracão 5 estrelas, não usava chinelas, trocava o chapéu e as porta-bandeiras.
Havia um corpo naquela bateria, que tocava não só a torcida. Tocava em meu peito a batida que aumentava a batida do meu coração. A musica tinha autoria e toda batida que conduzia uma paixão, levou das arquibancadas uma legião, de um grito um eco um soco na multidão.
Tumulto que a polícia continha e a imprensa guardava informação.
Um dia a ficha caía e não tinha mais ficha pra investir na saída da desilusão
Conduzia com brilho da esgrima o respeito e o carisma o talento da solidão
Veterano de guerra da vida, só reclamava se um neto desobedecia
Seu conselho de não esquecer que um dia
Somente na vida é o suficiente pra se viver com amor
Aquele vem de dentro do coração.

Sunday, August 01, 2010

Medofobia

Num bosque a noite é difícil não sentir medo.
É a estranha sensação de saber que não está sozinho.
Um momento em que se pode ser a vítima ou o assassino
Por isso eu te digo
Que quem anda comigo
Corre dois tipos de perigo: o de ter matado e o de ter morrido
Mas no fundo quem decide
É o teu medo do inimigo
O silêncio muda o tempo
O tempo muda a verdade
Quem era você antes daquele bosque
Que se dizia meu amigo
E que no primeiro ruído
Me deixou ali sozinho
Sem saber que era eu quem sabia o caminho
E ficou perdido
Virou o bandido
E tive que carregar em mim a culpa
De ter te perdido

Saturday, July 03, 2010

Felipe Melo do Brasil Hiolanda

Seria o Brasil brasileiro sem o samba e tempero?
Domingo sem praia, praia sem gelada, sábado e feijoada, time sem pelada?
Imagine se seria o Brasl brasileiro sem a Carmem Miranda e o Jacson do Pandeiro.
Se Brasília não fosse aquela anarquia. Sem o jeitinho de dançar miudinho.
Seria o Brasil brasileiro sem a mulher na avenida, escola sem bateria, almoço em família?
O Brasil brasileiro não perde a raça, levanta a taça
Dança brasileira cheia de graça
E o Brasil brasileiro se enche de graça.

Monday, June 07, 2010

Condensação

Esse boulevard noir
Que cobre de véu o seu céu
E congela meu calor
Mata a sede e no rocio
Me abraça feito cobertor
Não conhece o perigo
E se isola todo domingo
Que as lágrimas da chuva
Lamentam a saudade
Desse povo inteligente e trabalhador.
Mete a boca, maldita.
Curitiba!

Tuesday, April 06, 2010

quanto tempo dura

Ainda não assumi a velhice.
Na busca insaciável pela juventude perdida, terminei o namoro, rasguei a camisa do time, queimei todas as fotos, bati o carro, xinguei os pais, mijei na bandeira jurada 18 anos atrás e voltei a ser quem eu era 18 anos antes de eu me apresentar ao exército.
Deliciosa sensação de voltar no tempo.
De ser novamente alguém.
Amado.
Digno de apostas.
Ser elogiado pela gordura.
Inapto a competir.
Só comendo e dormindo.
Sendo carregado no colo.
Cagando e andando.
Chorando feliz.
Sorrindo por pouco.
Sem marcas nas roupas.
Com os pulmões cheios de ar.
E o fígado a judiar.
Longe do controle remoto.
Longe das contas.
Longe do chefe.
Pra longe daqui eu fui.
Eu sei.
Mas também não quero voltar.
Tampouco me receba.
Nem me busque.
Apenas se lembre de mim.
Como aquele que encontrou a fonte da juventude,
e envelheceu novo.
De novo!

Monday, March 08, 2010

Tiro e queda

Dona Jurema e Seu Adamastor tiveram três filhos sem a chance de vê-los adultos. A mãe sofria de diabetes e entregou o destino ao pai aos 39 anos, que veio a falecer de tuberculose logo mais, aos 43. Ambos tinham a mesma idade e deram aos filhos uma diferença de um ano para cada. Já crescidos, não moravam mais com a tia que os adotou e havia ficado caduca desde então. Um deles tentou de toda sorte para ter a vida que os irmãos construíram. Estudiosos e trabalhadores, os outros dois irmãos iniciavam uma carreira de sucesso no jornalismo e na advocacia. O país não passava por um momento muito democrático e as instituições se enfraqueceram. Com a censura os jornalistas perderam a voz e o emprego. Os advogados não tinham mais serventia no atual modelo jurídico. Coube então ao irmão do meio, como num passe de mágica, solucionar os problemas da família com um plano infalível. Como seus irmãos gozavam do sucesso, aproveitou-se de suas influências para assaltar um banco. Na fuga foi baleado, rendido e levado preso. Os irmãos, que já sabiam que tudo fazia parte do plano, assumiram seus papéis. O jornalista filmou tudo e o advogado acusou a polícia de abuso do poder. O processo ganhou à mídia e transformou o bandido em mocinho, tamanha era a revolta da população com as atitudes traumáticas dos homens de farda. Uma passeata organizada pelos estudantes pedia a anulação do caso já que o dinheiro do roubo nunca fora encontrado. Passados alguns anos de julgamentos o réu obteve sua condicional e foi morar com a tia caduca. Ela estava junto no dia do roubo e guardou consigo o dinheiro na mesma bolsa que carregava suas bolas que treinava bolão no clube Operário. A bolsa se encontrava intacta em cima do guarda-roupa infestado de cupins. Ligou para os irmãos, pegaram um avião para Nova Iorque, onde viveram em paz como Operador financeiro, Agente imobiliário e Empresário do ramo fonográfico. Voltaram ao Brasil em 2009 endividados com a crise que arrasou a economia mundial. Hoje vivem com a pensão do marido da tia, um ex-combatente na Normandia.

Wednesday, March 03, 2010

Invencível

Saí a caminhar, tentando fugir da saudade que divide o aluguel comigo.
Com um maço de cigarros no bolso e um isqueiro falhando. A cada posto uma cerveja.
Passa o ciclista, buzina o taxista. Freia a tia em cima do vira-latas assustado com o biarticulado atrasado.
Se põe o sol e continuo a caminhar, tentando fugir da saudade que insiste em me seguir.
Sigo sentido norte, onde uma pedreira desativada parecia ser o local perfeito para um destino. Caminho ligando os pontos que os postes iluminam sem me preocupar com eventuais interessados em furtos, a fim de que me roubem a saudade à mão armada.
O movimento nas ruas já não é mais tão frenético e o silêncio começa a virar a trilha sonora desta perseguição.
Alguns insetos tentam espantar a saudade num ataque quase sempre suicida.
E continuo a caminhar.

Ao chegar, me aproximo do abismo que havia entre o passado e o futuro.
Sem mais ter pra onde andar senti que a saudade já dividia o meu momento particular.
Percebi que há tempos ela o fazia.
Começamos a discutir a nossa rotina e a nossa história.
No calor da ira trocamos socos e duros golpes na memória.
Rolamos no chão feito gato e novelo.
Até que o meu chão acabou e o abismo me sugou.
Ainda deu tempo de a saudade estender a mão e me segurar.
Era chance de eu me salvar e sobreviver.
Mas quem estaria a salvo seria a saudade e eu não sobreviveria.
Me fiz escorregar para sempre te esquecer.
Só não sabia eu que se torna a saudade quem de nós parte.