Friday, April 08, 2005

a força de uma fraqueza

Felicidade!
Era o que sentia a criança naquela piscina de bolinhas. Parecia uma pipoca no óleo quente. Era mais um presente por outro dez no boletim. Nada tiraria aquele sorriso.
Uma pausa para o almoço.
Depois do churrasco, a coleção de ossos ainda encarniçados deixaram o cachorro eufórico. Seu rabo sacudia de um lado para outro. Era quase invisível.
Enquanto as crianças ainda aproveitavam a tarde ensolarada na piscina, o beija-flor se esbaldava no jardim.
Tia Lídia chamou: “booooolo, hora do boooooolo”
Um parabéns à você para mim. Todos (exceto os tios fotógrafos) tinham pressa em cantar, a fim de disputar os suculentos brigadeiros.
No fim da festa, minha irmã disse: nada do que ganhou compensa minha manhã no parquinho, porque só eu tiro dez nas provas”. Não devia, não precisava, mas retruquei: “nunca, no seu aniversário, vão te dar parabéns, porque virou corriqueiro, hipocrisia”. E a irmã que eu não tenho disse: “cale a boca, você é tão burro que não sabe o que diz...”
Desde então, nossas relações estão cortadas. O cachorro, ainda abana o rabo sempre que alguém se aproxima. Sempre que lhe jogam ossos.

Wednesday, April 06, 2005

Conto do Vigário

É mais forte que eu. Sempre olho para trás. É uma necessidade compulsiva. Tenho que olhar para trás.

E sempre que olho, ele continua a me perseguir. Como um monstro no escuro.
Maldito monstro! Não me deixa descansar.

A cada passo, uma olhada para trás. Às vezes ele some. Mas eu sei que não posso parar, porque ele sempre voltou. Por sinal, continua lá. Acabei de olhar.

Às vezes sinto como se minha fuga fosse carne crua.
Já tentei voar, foi pior. Já tentei me esconder - quase me perdi. Droga!
Ele ainda está lá!

E se eu parar?