Atravessei meio
mundo para chegar ao pé daquela montanha. Andei de jegue, de trêm, balsa,
carona e a pé. Cruzei um oceano de avião. Todo o meu dinheiro economizado num sonho. O
sonho de conhecer o velho sábio da montanha. Aquele que há anos não desce a
civilização. Mora lá em cima, mesmo em tempos de neve. Não há guias disponíveis
para esta trilha. O começo é tranquilo e os primeiros passos são acompanhados
de um riacho límpido e puro. Insetos e pássaros disputam a sobrevivência aos
cantos. Logo em seguida, já com uma paisagem um pouco mais árida, não há mais árvores, apenas galhos no chão. A íngrime subida nos exige criatividade,
transformando os galhos em cajado, que nos servem de apoio ao cansaço que só aumenta.
Nesta trilha não levamos alimentos. A noite chega antes do costume e o ideal é
dormir o quanto antes. O silêncio e as estrelas começam a questionar o juízo
frágil. Um coro de vozes me leva a
sonhar com o dia de amanhã e em todas as perguntas que farei ao velho sábio. Em
tudo o que ele poderá me dizer. O sono não vem mas o dia sim. A vontande é de
voltar, mas o sacrifício me obriga em seguir até o fim. A primeira coisa que eu me
pergunto é: o que é que eu estou fazendo aqui? Para que isso tudo? As respostas se entrelaçam
em um novelo de fatos que me distraem enquanto subo e ganho tempo. Vou tão fundo em mim mesmo que nem sinto mais as dores
superficiais. Enquanto isso subo e ganho
tempo. Chego à casa do velho sábio que parecia me aguardar. Me ofereceu um chá.
O cheiro de insenso era forte. Não havia
muito conforto, mas havia uma fogueira que deixava o ambiente agradável e
protegido. Mascamos uma raíz e comi uma pasta que preferi não perguntar o que
era. Só pensava na minha fome. Depois de um tempo, quebrei o silêncio e
perguntei: “- Mestre, subi a montanha para ouvir o que tem a dizer sobre o
sentido da vida.” Ele respondeu: “- Bom meu jovem, se chegou até aqui, você já
deve ter encontrado”. E eu concordei: “- De fato, Mestre. Durante a caminhada eu pensei muito sobre a minha vida, mas vim
até aqui para ouvir a sua palavra.” Eis que ele me revela: “- Jovem, eu não sei
nada. Todos que sobem aqui encontram o sentido da vida durante o caminho. Não
esqueça seu cajado para a volta. Ele é o seu guia. Boa viagem!”