Achei que o porteiro estava se sentindo sozinho. Resolvi descer e fazer-lhe companhia, até que eu pegasse no sono. Minha pantufa não escondia minhas intenções. Acendi um cigarro e comecei perguntando sobre o síndico. Fumar era proibido, assim como ter cães e gatos. Qualquer ruído, até mesmo aquela gemidinha da vizinha, não era tolerado após às 22h. No natal a iluminação era exagerada. Não descobri nada mais que do que minha filha sofreu com aquele ex-namorado.
Seu Olimar, o porteiro, não era muito entendido de futebol, mas sabia tudo sobre números. Dominó, cartas, palitinho. Eu sempre era cercado por seus cálculos. O meu forte eram as charadas. Seu Olimar acertava, mas eu era rápido para inventar outra resposta.
Fumávamos o mesmo cigarro, coincidentemente, e no mesmo intervalo.
Depois de uma jornada de doze por vinte e quatro, minha insônia parece ter cura.
Antes de ir dormir, o conselho: “e cem metros rasos não dá pé!”