Monday, May 19, 2014

Troco na troca

A gente se conheceu em uma festa e nossos sorrisos demonstraram certa intimidade logo nos primeiros olhares. Trocamos carícias e telefones. Trocamos as roupas nas primeiras semanas. Trocamos tantas ideias mesmo que não tivéssemos tantas ideias para trocar. Trocamos os dias pelas noites. Trocamos a TV pelo cinema. Trocamos de endereço e até de sobrenome. Trocamos os problemas por soluções. Trocamos o trabalho por lazer e o dinheiro por felicidade. Trocamos nossos medos por certezas e não deixamos de trocar também os destinos das viagens. Assim como quem troca a água do cachorro, trocamos livros velhos por livros usados.  Trocamos as críticas e piadas de futebol por atitudes e passeios no parque. Trocamos cartas e postais quando nos afastamos. Trocamos  presentes quando nos aproximamos.  E mesmo quando brigamos, trocamos conhecimento. Trocamos o tempo perdido pelo tempo que fosse necessário. E seguimos trocando. Assim como quem troca o brinquedo do cachorro. E, se naquela festa, o Dj não tivesse trocado a música, nós trocaríamos de festa, porque a única coisa que eu não troco é estar com você!

Friday, April 04, 2014

origens

Meu bisavô havia adquirido umas terras com um dinheiro que ganhou em uma ação trabalhista contra o Porto de Paranaguá. Para resumir, na época ele jogava as sacas do trem para o silo. Teve uma série de problemas na coluna e respiratórios. O laudo da perícia comprovou que a morte dele foi em decorrência dos anos de trabalho no Porto. Meu pai, que acompanhou todo o sofrimento do seu avô, estudou direito e trabalhou no processo do começo ao fim. Com a sua parte dos honorários construiu uma casa em uma das terras e passou a levar uma vida agrária de subsistência à beira do rio. Ali eu nasci e cresci. Jogando bola com as galinhas, andando de bicicleta com os cachorros, cavalgando da escola para a igreja. Com o tempo a civilização começou a se aproximar do sítio. Fumaças eram avistadas no horizonte frente ao pôr do sol. Um dia um grupo de engenheiros bateu à porta de casa. Fizeram uma série de perguntas a meu pai. Mostraram papéis, mapas, fizeram anotações e deram alguns tapinhas nas costas dele. Eu fingia fazer a tarefa da escola enquanto tentava entender aquele teatro. A hora do almoço chegou e a minha mãe fez questão de botar à mesa. Pratos para todos. Os engenheiros primeiramente ameaçaram uma despedida, mas recuaram ao sentir o cheiro do baião de dois. Gostaram tanto que perguntaram se a minha mãe não poderia ser a cozinheira deles enquanto realizavam uma obra ali por perto. Negociaram e ela topou. Eu ainda não estava entendendo. Dias depois os engenheiros já faziam parte da família. Dias depois uma estrada já fazia parte do sítio. Dias depois a minha mãe tinha um restaurante na beira dessa estrada. Embora eu tenha estudado direito e administração, hoje eu sou chef no restaurante. Mas ainda moro no sítio. Acabei fazendo amizade com um grupo de motoqueiros que sempre paravam ali em suas longas viagens a passeio. Acabei inclusive por comprar uma bela moto e a acompanhá-los quando possível. Com o tempo e a intimidade eles iam me convencendo a ir morar na cidade, pois lá eu ganharia mais dinheiro. Teria maiores oportunidades. Eu já conhecia a rotina da cidade nas minhas viagens a passeio ou de negociação com certos fornecedores. Não fazia sentido pra mim sair do sítio. Não saí. 

Monday, March 24, 2014

Anúncio de vaga:

Precisa-se de pessoa comunicativa, pensamento rápido, talentosa, determinada e com espírito de equipe.
Bom humor e resiliência são diferenciais. Deve saber resolver problemas e cortar caminhos. Ter visão espacial e ser pontual é fundamental para esta vaga. Saber dizer e ouvir “não” fará parte da rotina de trabalho.  
Salário a combinar com a roupa.
Benefícios: mesa e telefone. 
Terá liberdade para abrir e fechar janelas conforme o clima. 
Não inclui controle do ar condicionado.

Início imediato. Entregas para ontem não poderão sofrer atraso.