Thursday, June 16, 2005

Novela brasileira

Capitulo 01

Jonas conferiu o endereço: Rua Coronel Roger, 1000. Era ali mesmo. Estava parado diante da casa da garota que conheceu pela internet. Estavam muito próximos do primeiro encontro. Havia chego o limite dos contatos virtuais. Trocaram fotos, trocaram presentes, trocaram discursos de amor, trocaram telefonemas ora amistosos ora mais excitantes, trocaram cenas de libidinagem, mas nunca transaram virtualmente. Ambos tinham a consciência de que era algo corporal, espirituoso, enérgico. Algo inarrável por Nelson Rodrigues.
Jonas se aproxima do portão. Percebe que a distância entre o quintal e a casa exigiria um escândalo. Esperto, procura a campainha. Nota que a mesma ficava estrategicamente postada em baixo da caixa de correio e ao lado da placa que avisava residir ali um cão feroz. - Eram raros os trotes com a campainha (geralmente traquinagens) assim como as visitas de pedintes e vendedores (os quais dotam de uma habilidade incrível de aparecer durante as refeições). Passadas as observações, Jonas adianta-se em direção à campainha da casa número 1000 da rua Cel. Roger. Mais rápido que ele, como Bily The Kid, o cão feroz surgiu (sabe-se lá donde), expondo os caninos, com latidos bravos e botes assustadores. Sem créditos no celular, Jonas aguarda alguns instantes, tentando encontrar uma solução, mesmo com o raciocínio bloqueado pelas insistentes demonstrações de braveza do cão.
No desespero, num ato insano, Jonas arremessa a caixa de trufas recheadas com licor de cassis adentro da garagem, adoçando a fúria do cão, que passou os segundos seguintes devorando as deliciosas e caras trufas de sua dona. Agora com espaço, Jonas enfia o braço pelas grades e com o indicador direito pressiona a campainha. Sem sucesso tenta de novo, com mais pressão. Outra com mais força, outra repetidamente. Não adiantava. A campainha estava com defeito. E quase que a mão de Jonas também, se não percebesse o cão voltando a ataca-lo após comer os chocolates. Sem presentes, o dia de Jonas ainda podia ser salvo, caso não fosse a torrencial chuva de verão que despeça do céu sem aviso. Agora molhado, sem ter o q fazer, Jonas chama pela amada, disputando com os latidos do cão o prêmio de mais chato da Rua. Um moleque oportunista, dirigindo o carro do pai, levava alguns amigos para fumar na pacata Rua Roger, e com velocidade superior à permitida ali, passou sobre a poça d’água, elevando uma onda gigante em direção a Jonas. Não era de acreditar, mas na casa da frente, no outro lado da rua, espiava pela janela Severino, o típico sujeito sarrista do setor em que trabalhavam. Mal sabia Jonas que ali era residência fixa de Severino, que se partia de rir com a desgraça de Jonas. O celular de Jonas toca, finalmente seria a salvação. Mas na verdade era a sua operadora de telefonia avisando que seu identificador de chamadas seria bloqueado caso não efetuasse uma recarga em determinado prazo. A chuva parou. O cão voltou. Severino não agüentou e foi conversar com seu amigo, alvo das piadas no dia seguinte. Jonas explica sua história de amor e que aquela epopéia seria o grande encontro de suas vidas.

continua...

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