Monday, June 27, 2005

Novela brasileira

Capítulo 02

Severino era aquele moleque que fazia questão de ser odiado pelas meninas. Sempre estava aprontando alguma para seu vizinho e sua professora de português era seu alvo preferido. Relaxado com os estudos, não tinha muitas perspectivas de futuro se não fosse pro Exército. Depois de um ano no parque de diversões (assim ele definia o Exército), aprendeu todas as piadas, sátiras e grosserias possíveis, além de o tempo todo estar mexendo em armas, lama, água, jeeps velhos, tanques de guerra e mulheres de zona. Após servir o governo, Severino – sem formação – tentou um concurso público e passou. Era o piadista do setor. Ele adorava encontrar um motivo para envergonhar Jonas, aquele rapaz franzino, sempre quieto atrás do monitor, fumante compulsivo, que envergonhava-se facilmente e raramente tinha resposta. Mal sabia Jonas que Severino era um coitado. Que saía do trabalho para a casa da mãe jantar, e depois beber sozinho em um boteco de sempre. Que era piadista somente para chamar a atenção (afinal um ambiente de trabalho não permite traquinagens).
Um dia, Severino assistia televisão como todos os dias, porém um latido de cão lhe atrapalhava absurdamente. Incomodado, foi até a janela averiguar. Não acredita quando depara-se com o franzino Jonas ensopado na chuva na frente do portão da vizinha. Assiste àquela cena como uma comédia. Não resiste e vai tirar com Jonas satisfações daquilo tudo.
Sente um pingo de inveja da história de amor que escuta, e sente-se obrigado a humilha-lo.
Pensa rápido em uma frase de efeito que soasse como a tampa do caixão de Jonase solta a bomba:
- Como confia em mulher que conhece pela net, pitoco? Essa ai faz 6 anos que mora ai e ha 4 dorme comigo. E não só comigo...Jonas engole seco a saliva, fica alguns segundos sem piscar e repirar.

Continua...

Thursday, June 16, 2005

Novela brasileira

Capitulo 01

Jonas conferiu o endereço: Rua Coronel Roger, 1000. Era ali mesmo. Estava parado diante da casa da garota que conheceu pela internet. Estavam muito próximos do primeiro encontro. Havia chego o limite dos contatos virtuais. Trocaram fotos, trocaram presentes, trocaram discursos de amor, trocaram telefonemas ora amistosos ora mais excitantes, trocaram cenas de libidinagem, mas nunca transaram virtualmente. Ambos tinham a consciência de que era algo corporal, espirituoso, enérgico. Algo inarrável por Nelson Rodrigues.
Jonas se aproxima do portão. Percebe que a distância entre o quintal e a casa exigiria um escândalo. Esperto, procura a campainha. Nota que a mesma ficava estrategicamente postada em baixo da caixa de correio e ao lado da placa que avisava residir ali um cão feroz. - Eram raros os trotes com a campainha (geralmente traquinagens) assim como as visitas de pedintes e vendedores (os quais dotam de uma habilidade incrível de aparecer durante as refeições). Passadas as observações, Jonas adianta-se em direção à campainha da casa número 1000 da rua Cel. Roger. Mais rápido que ele, como Bily The Kid, o cão feroz surgiu (sabe-se lá donde), expondo os caninos, com latidos bravos e botes assustadores. Sem créditos no celular, Jonas aguarda alguns instantes, tentando encontrar uma solução, mesmo com o raciocínio bloqueado pelas insistentes demonstrações de braveza do cão.
No desespero, num ato insano, Jonas arremessa a caixa de trufas recheadas com licor de cassis adentro da garagem, adoçando a fúria do cão, que passou os segundos seguintes devorando as deliciosas e caras trufas de sua dona. Agora com espaço, Jonas enfia o braço pelas grades e com o indicador direito pressiona a campainha. Sem sucesso tenta de novo, com mais pressão. Outra com mais força, outra repetidamente. Não adiantava. A campainha estava com defeito. E quase que a mão de Jonas também, se não percebesse o cão voltando a ataca-lo após comer os chocolates. Sem presentes, o dia de Jonas ainda podia ser salvo, caso não fosse a torrencial chuva de verão que despeça do céu sem aviso. Agora molhado, sem ter o q fazer, Jonas chama pela amada, disputando com os latidos do cão o prêmio de mais chato da Rua. Um moleque oportunista, dirigindo o carro do pai, levava alguns amigos para fumar na pacata Rua Roger, e com velocidade superior à permitida ali, passou sobre a poça d’água, elevando uma onda gigante em direção a Jonas. Não era de acreditar, mas na casa da frente, no outro lado da rua, espiava pela janela Severino, o típico sujeito sarrista do setor em que trabalhavam. Mal sabia Jonas que ali era residência fixa de Severino, que se partia de rir com a desgraça de Jonas. O celular de Jonas toca, finalmente seria a salvação. Mas na verdade era a sua operadora de telefonia avisando que seu identificador de chamadas seria bloqueado caso não efetuasse uma recarga em determinado prazo. A chuva parou. O cão voltou. Severino não agüentou e foi conversar com seu amigo, alvo das piadas no dia seguinte. Jonas explica sua história de amor e que aquela epopéia seria o grande encontro de suas vidas.

continua...

Tuesday, June 07, 2005

Rascunho

Sou seu arquétipo
que não reflete em seu espelho.
Disfarça
E expulsa
Finge não ser o
Tipo que veste a carapuça:
Marcador de páginas
De uma vida de flash e frames.
De sentimentos
Que não passam de momentos.

Wednesday, June 01, 2005

Amor Placebo

É fácil perceber quando tuas vontades são impulsos
Você grita, treme, chora, corta os pulsos.
Quer mostrar ao mundo teu pior lado
Como se pudesse fazer tudo sozinho.
Pede desculpa calado

(a liberdade é teu hino)

Faz de conta que é fantasia
O que não passa de ironia
Cinismo, mentira, hipocrisia
Cuidar da tua vida, fazendo da tua, a minha

Não sei se éramos corpos
Não sei se éramos porcos

Pois no final,
cada um para um lado

dormindo / fumando

(a liberdade é teu hino)
como pobre em cassino
tigre de circo

quero amor, quero amar
não vou trocar o que eu tenho
para te dar

a minha felicidade,

como você, é minha.

Insanidade!