Hoje cedo, saindo de casa, um gato branco atravessou meu caminho. A previsão do tempo já havia me alertado sobre a entrada da frente fria. Um senhor que caminhava logo a frente deixou cair um papel. Assim que peguei, gritei para alertá-lo. Infelizmente, como tampa de caneta, sumiu rapidamente sem que pudesse fazê-lo. Só poderia certificar-me da importância do papel abrindo-o. Percebi que era uma espécie de mapa. Me guiava por aquele mesmo caminho até duas quadras adiante, quando eu deveria virar a esquerda e descer na estação do metrô. Havia também um horário: 13h45. Também uma espécie de senha: 06. Achei que fosse importante e segui o mapa pensando em seguir o senhor, podendo assim devolver o mapa. No horário marcado cheguei à estação. Entrei no metrô que aguardava. Entrei na sexta porta, pensando na "senha". Nada acontecia e na sexta estação desembarquei. Um rapaz franzino, com uma camiseta vermelha estampada com uma estrela de seis pontas amarela olhava atentamente para a sexta porta da qual desci. Cheguei para ele e disse: "seis"! "nove", respondeu. Achei estranho, pois não sabia o que dizer.... mas fui obrigado a dar muita risada. Ele manteve-se sério e indagou-me: é o seis? Sou o nove. Onde está o primo? Primo? Que primo? O dezessete. Puxou um telefone celular e me deu. Quero que o encontre, disse. Estarei na fila do Mc Donalds. Não perca a hora. Entrou no mesmo metrô e desapareceu. Neste instante pensei estar louco, esquizofrênico, paranóico ou algo parecido. Nada fazia sentido. Porque? Porque eu deveria encontrar o dezessete? Fui à rua, parei, olhei, escutei e assim que passou o trem algo me disse: décimo sétimo vagão! Contei e não tinha nada. Provavelmente não tinha nada a ver. Lembrei do celular. O que fazer com o celular? Fui para a agenda e todos estavam listados por um número. Primeiramente liguei para o seis. Algo vibra em meu bolso. Não. Não podia ser verdade. Mas era. Liguei para o dezessete. "Número inexistente". Eu insistia em discar e a gravação insistia e me dizer. Mas em qual Mc Donalds encontrar o nove? Não sei porque, mas fui direto a polícia. Contei a história ao delegado. O delegado me levou ao xadrez e me apresentou o numero um. Primeiro eu queria abraçá-lo, afinal era o "número um"! O delegado me pediu o celular. O número um disse que não podia ajudar, pois depois do "dois" ele foi preso e perdeu o total controle da situação. Era a hora de encerrar aquilo. Na verdade, nada tinha motivo ou ligação. Era apenas uma forma de intriga. Um jogo de dependência, no qual o número um era o único que ganhava, pois todos iriam a um local de encontro e pagariam a ele por uma passagem de volta. Mas como o mapa? O telefone? Descobrimos que o dezessete não existia. Tínhamos que inventa-lo e aguardá-lo no local combinado. Assim fizemos.
Na manhã seguinte, o carteiro deixa uma carta na caixa de correio do dezessete. Ele havia ganhado um brinde na loja de esportes da cidade. Surpreso e feliz chega ao estabelecimento e realiza a troca. Recebe como brinde uma camisa da seleção brasileira número dezessete nas costas e uma entrada para o teatro: 21h, poltrona 17 J. Presenteado, o dezessete foi à peça. Na poltrona 21h havia a mais linda mulher que pudera ter nascido. Ao fim da peça ela dirigiu-se ao Mc Donalds próximo ao teatro e pediu um número dois. Ele chegou ao lado dela e pediu um número quatro. O número nove aguardava na fila. A mulher disse que havia reparado nele na peça e pergunta onde estava sentado. Ele responde: 17 J. O número nove me chama e nos aproximamos do dezessete. O senhor não é felizardo da loja de esportes? Sim, acho que sou. Quer concorrer a outro bilhete de sorte? Vendemos rifas de festa junina para a Associação das Beatas Franciscanas da Comunidade do Rio do Bambuzal. O sorteio dará uma TV de plasma de 21 polegadas. O dezessete compra o bilhete, o lanche e a vinte e um. O nove me parabeniza e me agradece. Me dá uma percentagem, uns tapinhas nas costas que não quis contar e como uma tampa de caneta, desaparece na multidão.
1 comment:
Foi complexo demais pra um mancebo sem inspiração. Desculpe.
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