“O mapa está errado! O mapa está errado!” repetia Lincon. “Como? Como?” Repetia Mara. “Não sei, não sei, mas este rio não está no mapa... não sei onde estamos... o mapa está errado!” “Como? Como?” estacionaram o jeep, olharam ao redor. Nada parecia com o roteiro que haviam planejado. Voltar? Começaram a abrir a mata, e próximo ao rio armaram a barraca. O som da natureza silenciava o casal, recém casado. O sol se pôs, e uma lua laranja de proporções imensas começou a invadir o céu. As estrelas pareciam purpurinas no lençol negro que os cobria. Pássaros de espécies raras para um leigo cantavam a serenata que embalava o amor de Lincon e Mara. Aos poucos a fogueira que haviam feito para se esquentarem e espantar animais selvagens foi se apagando a medida que o sono os dominava. Ao acordarem, um banho nu no rio e algumas dúvidas: o que fazer nos próximos 5 dias? Não havia ali perto, a princípio, local para a compra de comida, artigos de higiene ou mesmo distração. Optaram por encarar a aventura. Ficaram por ali pelos próximos 5 dias, economizando alimento, banho de ri, pouca distração, muito amor e muita leitura dos livros que levaram. O tempo colaborava com um calor ameno, uma brisa que só o interior da Mata Atlântica proporciona, com o ar mais puro que os pulmões podem respirar. Uma chuva caia ao fim das tardes, dando de beber às raízes fortes que alimentavam os pássaros que fomentavam o desenvolvimento. O diálogo aos poucos foi se esgotando ao passo que os assuntos eram infinitamente explorados. O humor já não era o de uma criança no parque de diversões. Nos livros eram felizes para sempre, mas a vontade era mesmo a de fumar tudo o que haviam levado e esquecer a impaciência de não ter paciência. Os dias e as noites já não tão indiferentes. Alguns passeios curtos pela mata, banhos de rio, músicas no violão... e a desilusão de não estar feliz. Ao fundo a preocupação era a de viverem o que haviam planejado: fotos juntos em famosos pontos turísticos pelo mundo, um apartamento moderno, um carro para cada, jantares a dois, cinemas, teatros, amigos, filhos e o desabafo do stress após um dia tenso de trabalho. Nada disso acontecia naqueles cinco dias de recém casados.
- “A culpa é sua que não sabe ler um mapa!”
- “ah, ta! E placa, você sabe?”
- “como você não sabe fazer um bife?”
- “e seu ovo, então, é pior que o da empregada que tive aos nove anos...”
- “Sério, se for assim pra sempre, não vai dar”
- “concordo, não vai dar... nem pro mesmo time torcemos”
- “ai não, né? nem venha, nem a pau que mudo de time ou ir ver o seu jogar”
- “Mas eu te amo tanto....”
- “será? Eu já não sei se era amor...”
- “o que?”
- “é, é isso mesmo. Não é isso que quero pra mim. É melhor tudo acabar agora que ficarmos nos desgastando tentando uma coisa que nunca vai dar certo. Foi muito bom você não saber ler mapa, porque já vi que nunca ia dar certo”
- “me ajude a desmontar a barraca”
- “apague a fogueira”
- “não esqueça as suas roupas perto do rio”
- “junte o lixo ali do lado”
Entaram no carro, voltaram para casa. Cada um para sua casa, para nunca mais se verem.
Pois é.... também fiquei de cara.
1 comment:
5 dias? Foi até longo demais.
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