Tuesday, November 07, 2006

Cantada versão beta

Todo dia, quando desço do ônibus, cruzo a avenida principal, compro os pães de queijo para o café do escritório, páro na banquinha para ler as manchetes do dia, cumprimento meu amigo que trabalha no ponto de táxi, desvio as obras de saneamento na calçada, recebo uns panfletos, dou uma desculpa diferente para o mesmo garoto pedinte, quando chove dou uma leve discutida com as pessoas que andam de guarda-chuva sob as marquises, passo por aquela moto linda na vitrine e sempre nessa hora, você passa por mim. Todo dia! Já troquei o perfume, mas não adiantou. Você sempre age como quem nunca me notou. Como te conhecer se não sei me comunicar? Sou além de grosso, desastrado.... e gaguejo quando nervoso. Se ao menos eu soubesse escrever alguma coisa, tipo uma poesia, faria uma carta. Ou copiar uma canção, mas não sei seu gosto musical. Eu poderia te seguir e descobrir onde trabalha. Descobrir seu nome, telefone, e-mail, dados pessoais... te convidar para sair, jantar... não, não poderia! Eu chegaria atrasado e perderia o emprego. Não teria mais dinheiro para te convidar. Nem assunto para conversar. Não sei falar de outra coisa a não ser sobre meu trabalho. Atender pessoas que querem se suicidar dá bons assuntos. Como então farei para te conhecer? Para que preste a atenção em mim?
Certo dia, um daqueles de chuva, estava tão emburrado com meu sapato de sola furada, que nem reparei nas pessoas com guarda-chuva sob as marquises. Um carro passou então por uma poça e banhou-me todo. Molhou, ou melhor, encharcou meu terno que eu mais prezava. Como ir trabalhar desse jeito? Chegar atrasado ou molhado? Independente, seria mandado embora. Decidi segui-la. Quando fui procura-la, olhei e ela estava do meu lado, igualmente molhada. Tão brava quanto um cão pastor. Nos olhamos e começamos a rir. Ríamos sem parar. O que faríamos naquele momento? Ela disse que trabalhava perto dali, em uma loja de roupas usadas, e que poderia me ceder algumas roupas a um preço baixo. Acompanhei a moça. Ela me ofereceu algumas peças. Paguei e fui embora. Ela me chamou. Pensei estar muito atrasado já, mas parei para ouvi-la, como faria com um bem-te-vi, certamente. Ela me perguntou o nome, respondi, gaguejando. Perguntou se eu poderia fazer-lhe companhia no almoço. Disse sem pensar que fa-fa-faria o pooooooooooooooooooooooooooossível. Despedi-me e parti, com a responsabilidade de voltar pega-la as 12h15.
Como te conhecer se não sei me comunicar? Sou além de grosso, desastrado.... e gaguejo quando nervoso. Se ao menos eu soubesse escrever alguma coisa, tipo uma poesia, faria uma carta. Ou copiar uma canção, mas não sei seu gosto musical.

3 comments:

Taxi Driver said...

Consigo imaginar toda a cena rolando ali na 19 de dezembro, embaixo do Peladão! E os brexós ali da carlos cavalcanti, perto do Solar, hehe!
E almoçaram juntos ou não? =)

Anonymous said...

Espirituoso. Espero que tenha continuação.

beans said...

adorei a história! mas... e o almoço, como foi?