Não somos obrigados a ter que tocar sempre as mesmas notas, nem por isso somos obrigados a improvisar.
Sunday, August 14, 2011
DE BANDEIJA
Seu Adamaceno era um garçon já experiente. Atendia na casa desde 1998, muito antes da reforma de ampliação. Naquele dia Seu Adamaceno chegou em casa e comentou sobre uma mesa de 7 homens que consumiu muito vinho por duas horas no restaurante e que ao fim lhe deu uma boa gorjeta. Dia seguinte, já sorridente, Seu Adamaceno comenta que de novo aqueles homens foram ao restaurante, na mesma mesa e beberam outros vinhos, novamente por cerca de duas horas. Quando um dos homens pediu para fechar a conta, pensando na gorjeta Seu Adameceno deu o pulo do gato ao ser questionado se o último vinho era por conta da casa. Ele havia negociado com o dono algumas garrafas das melhores safras, as quais deixava na adega do restaurante somente aguardando estes momentos. Surpreendeu aos homens e ganhou os melhores clientes da sua vida, pois eles iam religiosamente todos os dias, de segunda a sexta . Foi assim por dois meses. Os meses em que a casa de Seu Adamaceno esqueceu a miséria. Era churrasco com os amigos. Era churrasco com os vizinhos. Era churrasco com o compadre. Era churrasco com a família. Passou a multiplicar o valor do dízimo e ganhar mais respeito na comunidade evangélica que frequentava. Se tornou pastor nas horas vagas e andava sempre bem alinhado. Homem de muita fé, agradecia fielmente aqueles 60 dias de dádivas. Até o dia em que os 7 homens entraram pela porta da frente do restaurante sacando armas até então só vistas no cinema anunciando voz de sequestro. Estavam sequestrando o estabelecimento. Todos ali dentro foram revistados e levados aos banheiros sem seus respectivos celulares, notebooks e ipads. Jóias e relógios de valor foram roubados. Seu Adamaceno, já conhecido dos homens, ficou de refém caso o plano necessitasse de uma garantia para a fuga. Do telhado do restaurante eles passaram a monitorar os sinais enviados pelos ratos de laboratório infiltrados nos esgotos da mansão que ia até o outro lado da quadra. Imagens e sons, frequências cardíacas, detector de metais e dados trocados via celular eram um pacote de informações que naquele momento já estavam mapeadas. O pesadelo de Seu Adamaceno ainda não havia começado. Os homens precisavam que alguém entrasse na casa pelos fundos e disparasse o alarme, chamando a atenção da empresa de monitoramento para a rua de trás. Pela rua da frente invadiram a casa e praticaram um dos maiores roubos bem sucedidos da história do crime organizado, sem mortes e sem a captura de nenhum dos 7 ladrões. Seu Adamaceno até hoje come o pão que o Diabo amassou no sistema prisional e continua pregando a palavra divina com a mesma energia que o motiva um dia voltar a ter a sua vida de garçon.
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