Nelson pega sua mochila, preparando-se para mais uma viagem. Sai em rumo a tão sonhada Chapada do São Pedro. Caminha em meio aos cactos, afugentando os mosquitos que insistiam em provar seu sangue. Inusitadamente, um ruído ao fundo lhe chama a atenção. Nelson ignora, talvez seja coisa da sua cabeça cosmopolita. O ruído aumenta, dá quase para decifrar. Nelson parece não acreditar. Uma poeira levanta no horizonte, trazendo consigo uma Kombi, ano 1971, azul claro, com um mega-fone do qual o som de uma voz masculina mórbida recitava: “É o carro do sonho que vai passando... traga a vasilha!”. Nelson não acredita... ignora... até a hora em que lembra do sonho de doce-de-leite que sua avó fazia. Em meio aos cactos e poeira, dirige-se a Kombi e compra um irresistível sonho. Saboreia como água no deserto. Sorvete no verão. Um sonho.
Nelson olha o riacho que corre ao longe. Um bom banho naquele sol seria perfeito para limpar-se, refrescar-se. A figura de um senhor (muito) magro, de longos cabelos bancos que se misturavam com a barba e que à margem parado olhava para o fundo do riacho, lhe chamara a atenção. Antes de entrar no riacho, Nelson tenta encontrar o que o velho parece tanto procurar. Apenas alguns peixes desfilavam entre si, nada além disso. Ao introduzir a ponta do pé direito na água, o velho disse:
- Quer ser um deles?
Nelson não reage. Apenas em movimentos confirma a proposta.
O velho puxa uma bóia. Cede ao andarilho. Nelson despe-se e assenta-se. O corpo flui no leito do riacho. Uma experiência única. Nelson troca de energia com o riacho como um imã na geladeira. Lentamente brônzea seu corpo. Membros relaxados. Parecia um sonho. Não deu nem tempo de Nelson sentir que despencou em queda livre numa cachoeira de 48 metros.
Provavelmente o riacho desaguava no mar, única resposta que Nelson achou quando se deparou na ponta da prancha de um navio pirata. Com as mãos atadas, somente ouvia os gritos de Hey! que marcavam o ritmo da canção em coro. Nelson não tinha muitas opções quando as ordens do capitão agravadas pela espada diziam para que desse mais um passo à frente, aproximando-se cada vez mais da ponta da prancha.
Desesperado, Nelson pergunta:
- “Quais as minhas opções?”
- “Nenhuma”, aclama a tripulação.
A última espadada nas costas levou Nelson ao turbulento mar. Com as mãos presas pouco podia fazer, se não ser deixado levar pela correnteza. Em poucos segundos seu corpo encosta em terra firme. O esforço lhe dera náuseas suficientes pra que regurgitasse o sonho de doce-de-leite.
Ainda de mochila nas costas, dentro de um trem de inúmeros vagões, Nelson se depara com o cobrador lhe pedindo algo em uma língua intraduzível. As mímicas levavam a crer que se tratava do bilhete. (Mas que bilhete? Ele nem sabia o que estava fazendo ali...) O velho ao seu lado conversa com o cobrador e parece resolver a situação. O velho, por sinal, lhe parecia familiar. Mas ambos não conversam. Ao chegarem na estação o velho fala:
- Você desce aqui.
- Porque? Onde estou? Quem é você? O que houve?
- Desça. O trem já vai partir.
Ainda incrédulo Nelson desce do trem. Na estação sua família e amigos lhe aguardavam com ansiedade e saudade. Uma recepção calorosa e festiva.
Ao ler a capa do jornal na banca, a manchete: “Garoto que se perdera dos pais em trem em viagem de férias, é encontrado. Chega hoje na estação principal em viagem de volta no mesmo vagão”.
Nelson olha o riacho que corre ao longe. Um bom banho naquele sol seria perfeito para limpar-se, refrescar-se. A figura de um senhor (muito) magro, de longos cabelos bancos que se misturavam com a barba e que à margem parado olhava para o fundo do riacho, lhe chamara a atenção. Antes de entrar no riacho, Nelson tenta encontrar o que o velho parece tanto procurar. Apenas alguns peixes desfilavam entre si, nada além disso. Ao introduzir a ponta do pé direito na água, o velho disse:
- Quer ser um deles?
Nelson não reage. Apenas em movimentos confirma a proposta.
O velho puxa uma bóia. Cede ao andarilho. Nelson despe-se e assenta-se. O corpo flui no leito do riacho. Uma experiência única. Nelson troca de energia com o riacho como um imã na geladeira. Lentamente brônzea seu corpo. Membros relaxados. Parecia um sonho. Não deu nem tempo de Nelson sentir que despencou em queda livre numa cachoeira de 48 metros.
Provavelmente o riacho desaguava no mar, única resposta que Nelson achou quando se deparou na ponta da prancha de um navio pirata. Com as mãos atadas, somente ouvia os gritos de Hey! que marcavam o ritmo da canção em coro. Nelson não tinha muitas opções quando as ordens do capitão agravadas pela espada diziam para que desse mais um passo à frente, aproximando-se cada vez mais da ponta da prancha.
Desesperado, Nelson pergunta:
- “Quais as minhas opções?”
- “Nenhuma”, aclama a tripulação.
A última espadada nas costas levou Nelson ao turbulento mar. Com as mãos presas pouco podia fazer, se não ser deixado levar pela correnteza. Em poucos segundos seu corpo encosta em terra firme. O esforço lhe dera náuseas suficientes pra que regurgitasse o sonho de doce-de-leite.
Ainda de mochila nas costas, dentro de um trem de inúmeros vagões, Nelson se depara com o cobrador lhe pedindo algo em uma língua intraduzível. As mímicas levavam a crer que se tratava do bilhete. (Mas que bilhete? Ele nem sabia o que estava fazendo ali...) O velho ao seu lado conversa com o cobrador e parece resolver a situação. O velho, por sinal, lhe parecia familiar. Mas ambos não conversam. Ao chegarem na estação o velho fala:
- Você desce aqui.
- Porque? Onde estou? Quem é você? O que houve?
- Desça. O trem já vai partir.
Ainda incrédulo Nelson desce do trem. Na estação sua família e amigos lhe aguardavam com ansiedade e saudade. Uma recepção calorosa e festiva.
Ao ler a capa do jornal na banca, a manchete: “Garoto que se perdera dos pais em trem em viagem de férias, é encontrado. Chega hoje na estação principal em viagem de volta no mesmo vagão”.
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Tenho inveja deste blog sempre atualizado.
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