Friday, September 15, 2006

Né On

Kleitom tinha cinco anos e todo o dia acordava bem cedo para ir à escola. Lá ele tinha uma amiguinha de sala pela qual sentia uma amizade inexplicável nesta idade. Como a cidade em que moravam era muito pequena, eram comuns os encontros incidentais, o que fortalecia a amizade. Na casa de Kleitom, a família era constituída pelos pais e avô, este último que era a figura central da casa, sempre amigo, sempre consciente, sempre sábio, sempre ajudando em tudo, sempre conversando com todos sobre tudo, sempre querido, sempre presenteado. Contudo, o avô voltava para casa apenas algum dia ou outro da semana. E quando voltava chegava cheio de histórias. Era uma alegria muito bem recepcionada. Kleitom cresceu assim até seus cinco anos, quando seu avô veio a falecer. No enterro, Kleitom não parecia abatido ou triste, parecia não entender o que estava acontecendo. Nesta noite, enquanto dormia, Kleitom recebeu a visita de seu avô. Não se assustou, ao contrário, ficou curioso. Seu avô veio lhe contar uma lenda daquela pequena cidade que não poderia ser esquecida e que o menino jamais saberia.
A lenda dizia, na época em que o avô tinha a idade de Kleitom, que no imponente castelo do alto da colina, há alguns quilômetros da pequena concentração urbana em que residiam, visível de qualquer lugar da cidadezinha, habitava um Rei intocável. Era intocável porque não tocava ninguém e ninguém era tocado por ele. Sendo assim, ninguém subia para o castelo e o Rei também não saia de lá. Em vista disso, a lenda afirmava que o morador que subisse a colina e entrasse no castelo seria o “escolhido”, que voltaria para salvar o vilarejo. O escolhido teria todos os poderes em suas mãos, pois poderia tocar a tudo e a todos de qualquer forma. Pois bem, naquela idade o avô não se importava muito com os fatos e por brincadeira resolveu subir a colina rumo ao castelo. A população ficou atônita. As pessoas não acreditavam que havia aparecido finalmente o escolhido. E o menino subiu a colina e entrou no castelo. Todos comemoraram na cidade em uma grande festa! Ao entrar no imponente castelo, o menino se deparou com prateleiras de livros que iam do chão ao teto, não deixando à mostra nenhum detalhe das paredes em todo o castelo que ele descobriu ser inabitado. Ao ver isto, Kleitom pensou: nossa, vou levar uns vinte anos para ler tudo isso...
Vinte anos depois, o menino saiu após ler tudo o que havia no imponente castelo.
Ao avistá-lo descendo a colina, a cidade comemorou o esperado regresso do escolhido. Mas o avô, que na época deveria ter uns vinte e cinco anos, não lembrava da lenda e não entendeu direito o que estava acontecendo. De qualquer forma, comemorou sem chance de escapar, mesmo com muito cansaço, indo logo em seguida para casa dormir. No dia seguinte e por todos os outros que se seguiram, todos o convidavam para que almoçasse, pernoitasse, jantasse, tomasse um cafezinho, assistisse a um filme em suas casas, o consultavam para tudo e qualquer coisa.
Enquanto isso, havia uma menina de cinco anos que todo dia acordava bem cedo para ir à escola. Lá ela tinha um amiguinho de sala pelo qual sentia uma amizade inexplicável nesta idade. Como a cidade em que moravam era muito pequena, eram comuns os encontros incidentais, o que fortalecia a amizade. Na casa dela, a família era constituída pelos pais, irmãos e avô, este último que era a figura central da casa, sempre amigo, sempre consciente, sempre sábio, sempre ajudando em tudo, sempre conversando com todos sobre tudo, sempre querido, sempre presenteado. Ele havia, por exemplo, juntado a mãe da menina e algumas mães costureiras e montou com elas uma cooperativa, com a qual o negócio delas deu um forte impulso, transformando a cidade em um grande pólo têxtil, fortalecendo a economia local sustentável. Contudo, o avô voltava para casa apenas algum dia ou outro da semana. E quando voltava chegava cheio de histórias. Era uma alegria muito bem recepcionada. Mas teve um dia em que seu avô faleceu. No enterro, ela chegou desesperada e aos prantos. Não acreditava no que havia acontecido. Estava inconformada. E como mais um dos encontros incidentais, ela encontrou seu amiguinho de escola, Kleitom, até então sem reação. Ao tentar consolá-la, questiona se ela conhecia o seu avô, e ela por um segundo pára de chorar, olha para ele e diz: mas ele era o MEU avô! Quando viram, a cidade toda estava no enterro, inconformada, em um terrível clima de fim do mundo, fim das esperanças, da alegria, do amor, da vida!
Kleitom olha para o espírito de seu avô e pergunta: o senhor é a lenda? Sim, meu filho! Preciso te mostrar algo. Preciso que venha comigo!
Então pegou o menino pelo ombro e o conduziu colina acima, rumo ao castelo.
A cidade parecia não acreditar, pois o luto era algo ainda muito recente, mas aquela cena gerou uma felicidade contaminante. De novo havia um escolhido subindo a colina. Conduzido pelo invisível.

1 comment:

RodrigoCooK said...

Né On - em breve nos cinemas

Né On - coming soon

Né On - "-Gorgeous" (S.Kubrick)

Né ON - Vencedor Oscar Awards (Melhor filme)

Né On - PÁRA DE FICAR VIAJANDO E VAI TRABALHAR BOGOLITO!!!