Não somos obrigados a ter que tocar sempre as mesmas notas, nem por isso somos obrigados a improvisar.
Saturday, March 08, 2008
Paranóiafobia
Você chegou me beijando, me despindo, me empurrando. Me colou na parede, com minhas mãos e pernas amarrando. Me deixou indefeso e esperando. Você dançou, se distanciou, abriu a bolsa e retirou suas armas. Eu ansioso, estendido como uma estrela, aguardo que me ataque. Excitada, vira repentinamente e me atira a primeira faca, tangente à minha orelha... Antes mesmo de meu coração bater novamente outra faca é atirada e fincada ao lado do meu fígado. Podia sentir o frio da lâmina em minha pele. Fiiiiiu tóinhonhóin... Essa última fincou bem na virilha, fazendo com que eu me retorcesse interiro para não ser atingido. Ela ria como uma bruxa preparando uma poção no alto da torre de seu castelo, ouvindo seu corvo cantar. Se aproximou. Eu tremia. Pergunta-me: “gostou? Posso fazer ainda muito mais... agora é a sua vez”. Me beijou, com o fogo que aquecia o caldeirão, compartilhando meu nojo. Aos poucos me desamarrou, e desmaiou. Caiu, ou melhor, desabou ante meus pés. Me vesti, peguei-a no colo e debrucei seu corpo sobre o leito de sua cama. Esperei até que acordasse, sentado em uma cadeira de frente para seu corpo. Ela abriu os olhos lentamente e simplesmente não me reconheceu. Perguntou quem eu era e o que fazia ali. Respondi tão curto quanto a minha paciência no momento. Ela pediu desculpas e pediu para que eu me retirasse. Enquanto descia as escadas lentamente, pensava em todos os anos em que passamos juntos, as risadas, os momentos, as viagens, as loucuras, os presentes, as declarações... e ao abrir a porta do corredor para rua, dois carros da polícia me aguardavam para prender um estuprador, invasor e ladrão, que ela havia dado queixa. Com a vida normalizada, li um livro de autoria dela, daqueles romances que vendem em banca de revista. Li no ônibus a história de um amor entre um paciente terminal e uma enfermeira.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment