Chovia muito naquele inferno
Os ventos aumentavam as labaredas acalentadas pela tormenta
O diabo ria como criança no circo
Os anjos tocando trombetas
Toda a força de um pensamento
O medo do cemitério
O café da manhã à mesa
O sol irradia a piscina
O corpo ilustra a cena
O médico informa a família
O tempo esquece os segundos
As lembranças
O jogo
termina
Figura desconfigurada
Anomalia ambígua
Renasce
Sem escolha
Nova chance
Mais uma
Nova história
Mais uma
Circulo
Vicioso
Felicidade
Tardia.
É assim que se faz
É assim que termina.
Quer saber mais?
Haja com ironia.
Não somos obrigados a ter que tocar sempre as mesmas notas, nem por isso somos obrigados a improvisar.
Friday, February 25, 2005
Tuesday, February 22, 2005
Corrida de sapos
A corrida de sapos consiste em uma disputa entre sapos para descobrir qual deles completa o percurso em menos tempo. Para tal, constrói-se um labirinto de vidro ou acrílico, com as arestas vedadas. Existem duas modalidades: velocidade e irregularidade.
Para ser o campeão da categoria velocidade, o sapo deve chegar ao outro lado do percurso em menor tempo que os demais, sendo que cada sapo corre individualmente. É da responsabilidade do proprietário do sapo incentiva-lo, treiná-lo e até mesmo inscrevê-lo nas competições. Porém todos os sapos dispõe do mesmo artifício para a corrida: são lançados jatos de água salgada fervente em suas costas. Os furos no chão impedem que o labirinto alague e queime os pés do mesmo.
A mesma sistemática funciona para a categoria irregularidade, porém todos os sapos correm ao mesmo tempo. É irregular porque nem todos os sapos são atingidos pelos jatos devido a aglomeração.
Treinar estes sapos é uma profissão muito bem remunerada, assim como é muito bem quista pela sociedade, haja vista que estes campeonatos movem o entretenimento mundial.
Somente 5 treinadores competem na primeira divisão. As torcidas se dividem pelos sapos, já que as apostas envolvem grandes quantias de dinheiro.
Com o passar do tempo, o índice inflacionário das apostas passou desestruturar a economia. O governo interviu e cancelou as corridas e proibiu os treinadores de praticarem suas profissões, o que gerou um trafico de sapos. Os treinadores passaram a atuar clandestinamente. As corridas continuaram, porém de forma ilegal.
O sistema penitenciário sobrecarregou. A justiça estava cada vez mais lenta, devido à quantidade de processos que aumentaram com o tráfico e práticas ilegais com os sapos.
Os sapos, estes, nunca acabavam, pois eram (re)produzidos em laboratório.
A corrupção era evidente, o que multiplicava os cativeiros. O dinheiro começou então a se concentrar nas mãos dos conhecidos como "Máfia dos sapos". Estes mafiosos ficaram tão poderosos que quando atingiram cargos políticos, praticamente tinham autarquia para o que quisessem.
Com o avanço da tecnologia, a cultura da corrida de sapos passou, após muito tempo, a ser antiquada, o que passou a influenciar nos valores conscientizados pelos jovens. Esta nova tecnologia gerou novas formas de entretenimento.
Os jovens lutavam contra seus pais para que se encerrassem as corridas de sapos. Após muitos anos, a cultura se encerrou. Não havia mais apostadores. Não havia mais corridas. Restaram apenas os herdeiros da máfia e suas fortunas.
Como eram estes os grandes investidores, tudo o que era criado de consumo, partia do dinheiro lavado da máfia. Um destes jovens, teve uma brilhante idéia: ficar ainda mais rico!
Decidiu dominar o mundo e comprou um laboratório farmacêutico. Sua fortuna rendia como areia no deserto. Um pesquisador farmacêutico descobriu uma fórmula e ofereceu o produto ao jovem e milionário empresário. Após algumas horas de alucinações e um sentimento de felicidade extrema, questionou o pesquisador sobre a real função do produto. A resposta fez com que os olhos do jovem brilhassem: “Vício!”.
Em pouco tempo, navios cruzavam os mares com festas regadas com o novo produto. Alguns ficavam em chácaras fechadas e o consumo desenfreado do produto era o passatempo. Em casa, na escola, no trabalho, todos usavam o produto. Era tanto dinheiro na mão do jovem bilionário que ele passou a deter todos os terrenos, cada metro quadrado do planeta. Era dono de simplesmente todas as empresas do mundo. Tudo funcionava conforme seus planos.
Fez questão de não deixar herdeiros.
Ontem ele conheceu Ana. Hoje se casou. Amanhã de tudo se desfez.
Ela apenas disse:
- “Para provar que eu o amo, quero que se desfaça de tudo. Só assim terá certeza de que o amo pelo o que é, e não pelo o que tem.
- Se esta é a condição, faço questão de me desfazer de tudo, para provar que meu amor por você não tem barreiras. Disse o jovem.
Até então o mundo era teoricamente perfeito. Todos tinham uma boa qualidade de vida, renda bem distribuída, trabalhos decentes e bem remunerados, justiça social, escola, saúde, bons transportes, afinal o jovem tudo podia.
Para se desfazer de tudo, o jovem realizou um grande jantar de casamento, com mais de 5.000 convidados. Todos haviam passado por sua vida, e mesmo sem ter um contato constante, o jovem guardava estas pessoas com muito carinho. Em baixo de cada prato havia uma empresa para os homens e um terreno para as mulheres.
O jovem e Ana sumiram. Não sabem o que houve depois...
Para ser o campeão da categoria velocidade, o sapo deve chegar ao outro lado do percurso em menor tempo que os demais, sendo que cada sapo corre individualmente. É da responsabilidade do proprietário do sapo incentiva-lo, treiná-lo e até mesmo inscrevê-lo nas competições. Porém todos os sapos dispõe do mesmo artifício para a corrida: são lançados jatos de água salgada fervente em suas costas. Os furos no chão impedem que o labirinto alague e queime os pés do mesmo.
A mesma sistemática funciona para a categoria irregularidade, porém todos os sapos correm ao mesmo tempo. É irregular porque nem todos os sapos são atingidos pelos jatos devido a aglomeração.
Treinar estes sapos é uma profissão muito bem remunerada, assim como é muito bem quista pela sociedade, haja vista que estes campeonatos movem o entretenimento mundial.
Somente 5 treinadores competem na primeira divisão. As torcidas se dividem pelos sapos, já que as apostas envolvem grandes quantias de dinheiro.
Com o passar do tempo, o índice inflacionário das apostas passou desestruturar a economia. O governo interviu e cancelou as corridas e proibiu os treinadores de praticarem suas profissões, o que gerou um trafico de sapos. Os treinadores passaram a atuar clandestinamente. As corridas continuaram, porém de forma ilegal.
O sistema penitenciário sobrecarregou. A justiça estava cada vez mais lenta, devido à quantidade de processos que aumentaram com o tráfico e práticas ilegais com os sapos.
Os sapos, estes, nunca acabavam, pois eram (re)produzidos em laboratório.
A corrupção era evidente, o que multiplicava os cativeiros. O dinheiro começou então a se concentrar nas mãos dos conhecidos como "Máfia dos sapos". Estes mafiosos ficaram tão poderosos que quando atingiram cargos políticos, praticamente tinham autarquia para o que quisessem.
Com o avanço da tecnologia, a cultura da corrida de sapos passou, após muito tempo, a ser antiquada, o que passou a influenciar nos valores conscientizados pelos jovens. Esta nova tecnologia gerou novas formas de entretenimento.
Os jovens lutavam contra seus pais para que se encerrassem as corridas de sapos. Após muitos anos, a cultura se encerrou. Não havia mais apostadores. Não havia mais corridas. Restaram apenas os herdeiros da máfia e suas fortunas.
Como eram estes os grandes investidores, tudo o que era criado de consumo, partia do dinheiro lavado da máfia. Um destes jovens, teve uma brilhante idéia: ficar ainda mais rico!
Decidiu dominar o mundo e comprou um laboratório farmacêutico. Sua fortuna rendia como areia no deserto. Um pesquisador farmacêutico descobriu uma fórmula e ofereceu o produto ao jovem e milionário empresário. Após algumas horas de alucinações e um sentimento de felicidade extrema, questionou o pesquisador sobre a real função do produto. A resposta fez com que os olhos do jovem brilhassem: “Vício!”.
Em pouco tempo, navios cruzavam os mares com festas regadas com o novo produto. Alguns ficavam em chácaras fechadas e o consumo desenfreado do produto era o passatempo. Em casa, na escola, no trabalho, todos usavam o produto. Era tanto dinheiro na mão do jovem bilionário que ele passou a deter todos os terrenos, cada metro quadrado do planeta. Era dono de simplesmente todas as empresas do mundo. Tudo funcionava conforme seus planos.
Fez questão de não deixar herdeiros.
Ontem ele conheceu Ana. Hoje se casou. Amanhã de tudo se desfez.
Ela apenas disse:
- “Para provar que eu o amo, quero que se desfaça de tudo. Só assim terá certeza de que o amo pelo o que é, e não pelo o que tem.
- Se esta é a condição, faço questão de me desfazer de tudo, para provar que meu amor por você não tem barreiras. Disse o jovem.
Até então o mundo era teoricamente perfeito. Todos tinham uma boa qualidade de vida, renda bem distribuída, trabalhos decentes e bem remunerados, justiça social, escola, saúde, bons transportes, afinal o jovem tudo podia.
Para se desfazer de tudo, o jovem realizou um grande jantar de casamento, com mais de 5.000 convidados. Todos haviam passado por sua vida, e mesmo sem ter um contato constante, o jovem guardava estas pessoas com muito carinho. Em baixo de cada prato havia uma empresa para os homens e um terreno para as mulheres.
O jovem e Ana sumiram. Não sabem o que houve depois...
Sunday, February 20, 2005
Horóscopo
LEÃO (22 jul. a 22 ago.)
Astral inclina a escapismo, peso no ar não se sabe de onde, sensação de que está inadequado no ambiente. Descanse, medite, reze e fique de fora. Apenas observe o que se passa dentro e fora de você. Tente arranjar a rotina de maneira a ter horas de leitura agradável e diversão tranqüila.
Astral inclina a escapismo, peso no ar não se sabe de onde, sensação de que está inadequado no ambiente. Descanse, medite, reze e fique de fora. Apenas observe o que se passa dentro e fora de você. Tente arranjar a rotina de maneira a ter horas de leitura agradável e diversão tranqüila.
Friday, February 18, 2005
Lenny Kravitz - Baptism
I don’t want to be a star
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
My friends wonder what is wrong with me
´Cause I don´t get off on my fame
I got so much confusion now
Sometimes I don´t even know my name
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
Too many distractions run through my brain
So many girls they start to look the same
Too many options no time to choose
Too many clothes, too many shoes
I´ve had the world I´ve done it upside down
I played the part and I´ve been the clown
Now it´s my time, it´s a brand new day
To be myself in a different way
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
I got to meet all the wonderful people
I drank with Dylan boy did we act a fool
I got to meet all the fabulous people
I got high with Jagger, it was really cool
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
Never, never, never
Never, never, never
Never, never, never
Never, never, never, hey
I say never no no
I say never no no no
I say never no no
I say never no no
I say never no no
I say never no no no no
Never, never
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need no fat cigar
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
My friends wonder what is wrong with me
´Cause I don´t get off on my fame
I got so much confusion now
Sometimes I don´t even know my name
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
Too many distractions run through my brain
So many girls they start to look the same
Too many options no time to choose
Too many clothes, too many shoes
I´ve had the world I´ve done it upside down
I played the part and I´ve been the clown
Now it´s my time, it´s a brand new day
To be myself in a different way
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
I got to meet all the wonderful people
I drank with Dylan boy did we act a fool
I got to meet all the fabulous people
I got high with Jagger, it was really cool
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need the fat cigar
Never, never, never
Never, never, never
Never, never, never
Never, never, never, hey
I say never no no
I say never no no no
I say never no no
I say never no no
I say never no no
I say never no no no no
Never, never
I don´t want to be a star
Just want my chevy and an old guitar
I don´t want to be a star
I don´t need no fat cigar
Thursday, February 17, 2005
Trote (ou engano)
- Alô!
- Alô, quem fala?
- Com quem gostaria de falar?
- Este número é o 568-3369?
- Sim.
- Boa tarde!
- Boa tarde, quem fala?
- Com quem gostaria de falar?
- Ta maluco?
- Eu não sou maluco!
- Ta bom, eu que sou então...
- Então! Se você é o maluco por que pergunta?
- Eu não sou maluco!
- Tá, tá, tá...
- Quem fala, afinal de contas?
- Afinal de contas, com quem gostaria de falar?
- Boa tarde seu Afinal de contas, com quem gostaria de falar!
- Tá bom seu maluco, boa tarde! O que deseja?
- Primeiro que já disse que eu não sou maluco. E quero saber como sabe que meu número é 568-3369?
- Eu tenho identificador, seu maluco.
- Quantas vezes devo repetir que não sou maluco, seu maluco!
- Eu não sou maluco!
- Então porque tem identificador de chamadas?
- Porque sempre ligam aqui procurando este tal de Seu Maluco. Eu já disse, eu não sou Maluco
- Porra, porque não disse antes...
Tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu....
- Alô, quem fala?
- Com quem gostaria de falar?
- Este número é o 568-3369?
- Sim.
- Boa tarde!
- Boa tarde, quem fala?
- Com quem gostaria de falar?
- Ta maluco?
- Eu não sou maluco!
- Ta bom, eu que sou então...
- Então! Se você é o maluco por que pergunta?
- Eu não sou maluco!
- Tá, tá, tá...
- Quem fala, afinal de contas?
- Afinal de contas, com quem gostaria de falar?
- Boa tarde seu Afinal de contas, com quem gostaria de falar!
- Tá bom seu maluco, boa tarde! O que deseja?
- Primeiro que já disse que eu não sou maluco. E quero saber como sabe que meu número é 568-3369?
- Eu tenho identificador, seu maluco.
- Quantas vezes devo repetir que não sou maluco, seu maluco!
- Eu não sou maluco!
- Então porque tem identificador de chamadas?
- Porque sempre ligam aqui procurando este tal de Seu Maluco. Eu já disse, eu não sou Maluco
- Porra, porque não disse antes...
Tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu....
Wednesday, February 16, 2005
A melancolia da TV
Esses dias eu estava assisitindo TV, quando me deparei com uma sensação de melancolia. Na mesma hora senti saudades das propagandas de cigarro. Não que eu seja a favor das mesmas - inclusive isto gera uma outra interminável discussão - mas como eram boas aquelas propagandas. Não consigo esquecer o slogan do FREE: "Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum". E o que eram aquelas propagandas do Hollywood? Lindas imagens, esportes radicais, eu tinha mais vontade de praticar esportes do que de fumar... E o tradicional Marlboro? Aquela musiquinha, cavalos, o estilo cowboy de viver. Mas nada como as propagandas do Carlton!!! Eu proponho até que a DPZ lance um livro com as campanhas do Carlton (que eu compro). Ou melhor ainda, montar um museu com as campanhas do Carlton, tamanha a arte empregada. Os outros não passavam de produtos sendo vendidos.
Outra coisa que esta deixando a TV mais melancólica é a ausência dos grandes investidores. Afinal, aonde foram parar as cinematográficas campanhas do Itaú? As ilariantes campanhas do Unibanco? Lembra das épicas brigas entre Pepsi e Coca-Cola? Cadê? Existem outras, mas vou me limitar a estas...
Bem, o que na verdade está acontecendo, é que as pessoas estão vendo menos TV e os espaços estão caros. Ou seja, é mais rentável para a empresa promover ações de diversas formas, estando mais próxima do cliente. Este é o caminho certo, mas como eu sinto saudades das boas propagandas...
Outra coisa que esta deixando a TV mais melancólica é a ausência dos grandes investidores. Afinal, aonde foram parar as cinematográficas campanhas do Itaú? As ilariantes campanhas do Unibanco? Lembra das épicas brigas entre Pepsi e Coca-Cola? Cadê? Existem outras, mas vou me limitar a estas...
Bem, o que na verdade está acontecendo, é que as pessoas estão vendo menos TV e os espaços estão caros. Ou seja, é mais rentável para a empresa promover ações de diversas formas, estando mais próxima do cliente. Este é o caminho certo, mas como eu sinto saudades das boas propagandas...
Tuesday, February 15, 2005
O triste fim de Policarpoquaresma
Um banco sustenta James e sua viola sobre o palco corroído pelos cupins. As caixas de som vomitam as músicas depressivas de James, amplificadas pelo microfone. No balcão, o cotovelo roxo apóia o corpo embriagado de Argemiro. No canto do bar, o barman ocioso traceja mais um plano infalível que o levará a dormir com a garçonete novamente. Na porta do Bar Bosa, o porteiro conta as horas para poder fumar seu baseado enquanto anda em direção ao ponto de ônibus. O relógio de Argemiro apita; os ponteiros estão retos e verticais.
James canta o refrão de uma música própria, sem se cansar, repetindo como se estivesse amargurando um amor: “Quem me dera, amar tanto ela. Quem me dera, passar o tempo sem lembrar dela. Quem me dera esta linha paralela”.
Argemiro chora.
A garçonete, que já o conhecia de clientela, vem consolá-lo. Segura sua cabeça, lhe acaricia os cabelos ralos. Argemiro pede suspiradamente mais uma tequila. A garçonete aconselha que é melhor ele ir para casa.
No canto do bar, o barman assiste àquele teatro: a garçonete, falando ao pé do ouvido de Argemiro, sussurrando juras de prazer, assim como fizera com ele. Talvez ela esteja apenas provocando ciúmes, apenas testando seu sentimento. Ou talvez ela esteja procurando novas emoções. Por via das dúvidas, os dois motivos exigiam somente uma reação: pular sobre o balcão em direção de Argemiro e desconfigurar sua face.
A reação de James é emendar outra saideira, e começa então a tocar “Justiceiro”.
A garçonete grita, chora, mas nada pode fazer além disso. O porteiro, pilando o baseado, ouve os gritos e barulhos de cadeiras. Olha para o baseado e pensa. Pensa... Eis que num risco, ele adentra ao bar após ouvir uma garrafa sendo quebrada. São poucos os segundos que separam o momento em que o porteiro passou pela porta e agiu em separar a briga. Era feio o estado de Argemiro, que não reagiu em nenhum momento, tampouco defendeu-se. Mas o barman, tomado de cólera, só desgrudava a mão da face de Argemiro para tomar impulso para um novo soco. Só restou ao porteiro, partir para cima do barman. Agora era o porteiro, que praticamente marretava o barman, haja vista o carinho que todos tinham por Argemiro. E a garçonete quase desmaiava de desespero. Seu namoradinho apanhando, Argemiro esparramado no chão diluindo-se em sangue e James cantando: “olha só, que cara estranho que chegou...”.
Alguns arruaceiros, que perambulavam pelas ruas ainda aquelas horas, passaram na frente do Bar Bosa. Avistaram a portaria vazia. Gritos dentro do bar. A uma quadra dali, um carro da polícia fazia ronda. Os arruaceiros aproveitavam para arrombar o caixa. Nada restou de dinheiro daquela noite movimentada no Bar Bosa. Ao saírem correndo, deixando algumas notas caírem, foram surpreendidos pela polícia, que também não perdoou e abriu fogo, desferindo disparos em direção aos arruaceiros.
A situação agora era de caos. O barman não respirava mais, Argemiro agonizava, a garçonete em prantos, o porteiro já queimando as pontas dos dedos, James cantando “when the music is over, turn of the lights...”.
No casamento de Argemiro com a garçonete 2 meses depois, James tocava a marcha nupcial, enquanto o porteiro dialogava com um colega de cela:
- Este lugar é um inferno, fazem 2 meses que não sei o que é um baseado. Conversa o porteiro.
- Eu que o diga, tinha acabado de sair, quando eu e uns amigos doidões vimos um caixa de bar sem porteiro. Aproveitamos pra fazer a limpa, mas demos de cara com a polícia metendo fogo na gente...
O porteiro fora condenado a mais 15 anos.
James canta o refrão de uma música própria, sem se cansar, repetindo como se estivesse amargurando um amor: “Quem me dera, amar tanto ela. Quem me dera, passar o tempo sem lembrar dela. Quem me dera esta linha paralela”.
Argemiro chora.
A garçonete, que já o conhecia de clientela, vem consolá-lo. Segura sua cabeça, lhe acaricia os cabelos ralos. Argemiro pede suspiradamente mais uma tequila. A garçonete aconselha que é melhor ele ir para casa.
No canto do bar, o barman assiste àquele teatro: a garçonete, falando ao pé do ouvido de Argemiro, sussurrando juras de prazer, assim como fizera com ele. Talvez ela esteja apenas provocando ciúmes, apenas testando seu sentimento. Ou talvez ela esteja procurando novas emoções. Por via das dúvidas, os dois motivos exigiam somente uma reação: pular sobre o balcão em direção de Argemiro e desconfigurar sua face.
A reação de James é emendar outra saideira, e começa então a tocar “Justiceiro”.
A garçonete grita, chora, mas nada pode fazer além disso. O porteiro, pilando o baseado, ouve os gritos e barulhos de cadeiras. Olha para o baseado e pensa. Pensa... Eis que num risco, ele adentra ao bar após ouvir uma garrafa sendo quebrada. São poucos os segundos que separam o momento em que o porteiro passou pela porta e agiu em separar a briga. Era feio o estado de Argemiro, que não reagiu em nenhum momento, tampouco defendeu-se. Mas o barman, tomado de cólera, só desgrudava a mão da face de Argemiro para tomar impulso para um novo soco. Só restou ao porteiro, partir para cima do barman. Agora era o porteiro, que praticamente marretava o barman, haja vista o carinho que todos tinham por Argemiro. E a garçonete quase desmaiava de desespero. Seu namoradinho apanhando, Argemiro esparramado no chão diluindo-se em sangue e James cantando: “olha só, que cara estranho que chegou...”.
Alguns arruaceiros, que perambulavam pelas ruas ainda aquelas horas, passaram na frente do Bar Bosa. Avistaram a portaria vazia. Gritos dentro do bar. A uma quadra dali, um carro da polícia fazia ronda. Os arruaceiros aproveitavam para arrombar o caixa. Nada restou de dinheiro daquela noite movimentada no Bar Bosa. Ao saírem correndo, deixando algumas notas caírem, foram surpreendidos pela polícia, que também não perdoou e abriu fogo, desferindo disparos em direção aos arruaceiros.
A situação agora era de caos. O barman não respirava mais, Argemiro agonizava, a garçonete em prantos, o porteiro já queimando as pontas dos dedos, James cantando “when the music is over, turn of the lights...”.
No casamento de Argemiro com a garçonete 2 meses depois, James tocava a marcha nupcial, enquanto o porteiro dialogava com um colega de cela:
- Este lugar é um inferno, fazem 2 meses que não sei o que é um baseado. Conversa o porteiro.
- Eu que o diga, tinha acabado de sair, quando eu e uns amigos doidões vimos um caixa de bar sem porteiro. Aproveitamos pra fazer a limpa, mas demos de cara com a polícia metendo fogo na gente...
O porteiro fora condenado a mais 15 anos.
Monday, February 14, 2005
2 X 1
A máquina de escrever registrava aquele depoimento, metralhando letras no papel, deixando o escrivão com caimbras nos dedos e dores no ouvido e cabeça. Nenhuma novidade para o delegado que já havia desvendado o caso. Restavam boquiabertos os componentes do júri e o público que assistia em troca de não fazer nada melhor.
- Sim, fui eu! Disse o réu.
- Não, não foi... Disse o delegado.
Ninguém entendia nada, até que chamaram a única testemunha: Sr. Firmino, o servente de pátio da escola.
Após juramento, Firmino começou a revelar que o réu não estava no local no momento do crime. Para provar, Firmino levou os cadeados dos portões dizendo que os mesmos só abriam com a respectiva chave, fazendo demonstrações, além de afirmar que as mesmas não tinham cópias. Em seguida, levou impresso um documento da secretaria mostrando que o réu já havia passado a carteirinha às 17:50h para saída. Ou seja, era realmente impossível que o mesmo fosse o culpado, até porque ele não poderia estar lá.
O delegado agradeceu e pediu para que Firmino se retirasse.
O réu, já rouco de tanto repetir “fui eu, juro! fui eu!!!” voltou a repetir, arriscando-se a ficar sem voz, o que lhe impediria de tentar argumentações.
O delegado pediu licença, levantou-se, acendeu um cigarro ansiosamente, e com fúria encheu a sua caneca preta com traços longitudinais brancos, de café. Fez questão de não colocar açúcar. Tragou, bebeu, tossiu, babou, limpou, respirou fundo. Lentamente dirigiu-se ao réu e indagou-lhe? Mas porque, filho? Eu sei a resposta, mas quero ouvir da sua boca. Por que?
Um silêncio tomou conta do ar logo após o escrivão narrar as perguntas do delegado. Ouviam-se os olhos piscando, os corações batendo. Línguas entre os lábios mordidos.
“Eu só queria provar que existem falhas, mas mesmo assim vocês não acreditam”.Disse o réu.
Imediatamente o delegado soltou com toda a força de seu ombro, um soco de punho fechado na mesa, fazendo que todos saltassem de susto. E gritou: “Levem-no daqui. Desapareçam com ele. Sumam com esse moleque”.“Burguesinho...” sussurrava o delegado.
Ao ser abraçado por dois policiais que possuíam força o suficiente para dividir um cano de cobre com as mãos, cada um agarrando-lhe um dos braços, viu-se sendo arrastando aos piores destinos. Imóvel, imobilizado, fraco e sem voz, o réu olhou para o delegado e disse: “Fui eu, sim. Agora todos saberão. Só assim saberão.”
O delegado arregalou os olhos, pensou rápido, olhou para o lado imediatamente, avistou no camarote o prefeito fazendo movimentos de negação com a cabeça. Então soltou um grito que na mesma hora fez com que os policiais soltassem o réu e encerrassem os murmurinhos. Sem jeito, o delegado disse: “Vá pra casa, filho! Você nada fez. Nada pode fazer. Foi provado. Ande, vá embora.”
O cigarro do delegado estava metade em brasa.
No dia seguinte, na mesma escola, o garoto continuava o mesmo. Olhos negros, sentado no canto do pátio, saboreando sua maçã com o canivete que carregava no bolso, disparando olhares aos demais que ali brincavam, apenas esperando que alguém o chamasse.
- Sim, fui eu! Disse o réu.
- Não, não foi... Disse o delegado.
Ninguém entendia nada, até que chamaram a única testemunha: Sr. Firmino, o servente de pátio da escola.
Após juramento, Firmino começou a revelar que o réu não estava no local no momento do crime. Para provar, Firmino levou os cadeados dos portões dizendo que os mesmos só abriam com a respectiva chave, fazendo demonstrações, além de afirmar que as mesmas não tinham cópias. Em seguida, levou impresso um documento da secretaria mostrando que o réu já havia passado a carteirinha às 17:50h para saída. Ou seja, era realmente impossível que o mesmo fosse o culpado, até porque ele não poderia estar lá.
O delegado agradeceu e pediu para que Firmino se retirasse.
O réu, já rouco de tanto repetir “fui eu, juro! fui eu!!!” voltou a repetir, arriscando-se a ficar sem voz, o que lhe impediria de tentar argumentações.
O delegado pediu licença, levantou-se, acendeu um cigarro ansiosamente, e com fúria encheu a sua caneca preta com traços longitudinais brancos, de café. Fez questão de não colocar açúcar. Tragou, bebeu, tossiu, babou, limpou, respirou fundo. Lentamente dirigiu-se ao réu e indagou-lhe? Mas porque, filho? Eu sei a resposta, mas quero ouvir da sua boca. Por que?
Um silêncio tomou conta do ar logo após o escrivão narrar as perguntas do delegado. Ouviam-se os olhos piscando, os corações batendo. Línguas entre os lábios mordidos.
“Eu só queria provar que existem falhas, mas mesmo assim vocês não acreditam”.Disse o réu.
Imediatamente o delegado soltou com toda a força de seu ombro, um soco de punho fechado na mesa, fazendo que todos saltassem de susto. E gritou: “Levem-no daqui. Desapareçam com ele. Sumam com esse moleque”.“Burguesinho...” sussurrava o delegado.
Ao ser abraçado por dois policiais que possuíam força o suficiente para dividir um cano de cobre com as mãos, cada um agarrando-lhe um dos braços, viu-se sendo arrastando aos piores destinos. Imóvel, imobilizado, fraco e sem voz, o réu olhou para o delegado e disse: “Fui eu, sim. Agora todos saberão. Só assim saberão.”
O delegado arregalou os olhos, pensou rápido, olhou para o lado imediatamente, avistou no camarote o prefeito fazendo movimentos de negação com a cabeça. Então soltou um grito que na mesma hora fez com que os policiais soltassem o réu e encerrassem os murmurinhos. Sem jeito, o delegado disse: “Vá pra casa, filho! Você nada fez. Nada pode fazer. Foi provado. Ande, vá embora.”
O cigarro do delegado estava metade em brasa.
No dia seguinte, na mesma escola, o garoto continuava o mesmo. Olhos negros, sentado no canto do pátio, saboreando sua maçã com o canivete que carregava no bolso, disparando olhares aos demais que ali brincavam, apenas esperando que alguém o chamasse.
Thursday, February 10, 2005
Comments
Um dos benefícios disto aki é a democracia, é o diálogo. Eu só preciso descobrir como tornar isto possível...
Inauguração
Hoje é dia de festa! Passado o carnaval, nós do mundo dos negócios comemoramos o ano novo! Ou seja, Feliz Ano Novo!!!! Digo também que hoje é dia de festa, exatemente porque está no ar O Legado, um endereço eletrônico onde encontrar textos sobre comunicação & mercado, poesias, artigos sobre sei-la o q e outras coisas q ainda não sei. Mas enfim, ainda não desisti de ter meu fanzine, ter meu jornal, minha revista, minha concessão de TV, minha poltrona de couro reclinável num escritório de madeira no Ministério das Comunicações, minha agência de publicidade com uma secretária gostosa. Não, não desisti. Apenas me rendi a tecnologia e seus benefícios. Sempre em pról da comunicação, claro.
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